Enquanto a imprensa respalda cautelosamente as principais medidas econômicas do governo, ainda que alimentando desconfianças a respeito das iniciativas de combate à inflação, o noticiário político parece entrar numa daquelas fases em que o observador reforça a suspeita de que políticos são uma espécie de alienígena infiltrado na sociedade.
A notícia de que Renan Calheiros, Romero Jucá e Gim Argello compõem o novo Conselho de Ética do Senado é um desses motivos para se acreditar que o Congresso Nacional navega na direção contrária do senso comum.
Os principais jornais de circulação nacional destacam o fato de que os três parlamentares já foram investigados por questões que normalmente acabam sendo tema do Conselho, em ocasiões diferentes.
Além disso, chama atenção o fato de que, dos 15 senadores indicados para compor o órgão de julgamento do comportamento ético no Senado, oito têm inquéritos ou processos em andamento no Supremo Tribunal Federal.
Sobre todos eles impera a figura do presidente do Congresso, José Sarney, autor de indicações para o Conselho que chamam a atenção da imprensa por sua incoerência.
Até parece provocação.
Oposição, pero no mucho
Mas coerência não parece ser um elemento essencial na política brasileira.
Em São Paulo, a iniciativa do prefeito Gilberto Kassab de criar uma nova sigla para abrigar aqueles que são oposicionistas, pero no mucho, ameaça desmontar o principal núcleo de resistência ao governo liderado pelo PT.
O rearranjo que o governador Geraldo Alckmin está sendo obrigado a produzir em sua equipe em função da revoada de tucanos reduz ainda mais o espaço para alianças na oposição.
(Falta de) Educação
Além disso, ainda produz mal-estar a decisão do governador paulista de extinguir um programa de bolsas para estudantes pobres, que podiam ter aulas complementares de inglês em escolas particulares.
A decisão, tomada poucos dias depois da polêmica em torno de um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que defendia uma mudança na estratégia do PSDB em busca de apoio da nova classe média, provoca críticas dentro do próprio partido oposicionista.
Para o leitor distraído, pode parecer que em política tudo é feito ao contrário do que julga o senso comum.
***
Finalmente, regulação e inclusão
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa
Está prevista para esta quinta-feira (28/4) uma visita do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, à Câmara dos Deputados para discutir o projeto do governo sobre o marco regulatório das comunicações e, de quebra, o andamento do Plano Nacional de Banda Larga. O encontro ocorre por solicitação da recém-criada Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular, instalada na semana passada, em Brasília [ver aqui].
Assunto não faltará ao ministro, em especial no tocante à política pública para a universalização da banda larga, que ainda patina entre indefinições e falta de recursos. O orçamento do Ministério das Comunicações para este ano, por exemplo, foi cortado em 60%. E na esteira das restrições orçamentárias, o papel da rediviva estatal Telebrás, retirada do limbo para assumir a condição de gestora do Plano Nacional de Banda Larga, mergulhou num oceano de incertezas. Este é um assunto sobre o qual o ministro deverá explanar em detalhes, até porque precisa trabalhar duro para atender a solicitação da presidente Dilma Rousseff, que cobrou do Ministério a oferta de uma velocidade mínima maior do que a originalmente prevista no plano.
Outro ponto da pauta será o projeto de um novo marco regulatório para as comunicações brasileiras. O ministro ainda não apresentou uma proposta formal, mas tem dado mostras de estar trabalhando duro sobre a pré-proposta que herdou do ex-ministro Franklin Martins. Quanto mais não fosse pelo fato de que, desde sua posse, a atuação de Paulo Bernardo tem se notabilizado pela insistência em não deixar esse assunto escapar da agenda pública. De uma coisa, pelo menos, pode-se ter certeza: o bonde da regulação começou a andar. E o da inclusão digital, também. Já não era sem tempo.