O período eleitoral pode ser considerado o melhor momento para sentarmos o pé em alguns fatos, tanto acontecimentos políticos, como também na análise de dados e situações: o famoso, onde estamos e para onde vamos, ou seja, o que queremos para o nosso país? Este artigo pretende, de forma breve, pontuar o cenário político brasileiro atual sem cogitar nomes de candidatos, mas percorrendo os espaços de decisão e convergência entre democracia e mídia. Em um primeiro momento, apresentaremos um breve relato sobre a importância das campanhas eleitorais; em seguida refletiremos a idealização dos candidatos e o papel da psicologia social no contexto eleitoral; e, ao final, relacionaremos os temas deste artigo com os debates.
As campanhas eleitorais funcionam como mediadoras no contexto eleitoral brasileiro e, tão logo ganham força, começam a agregar pessoas, incitar valores e transformar comportamentos. O cenário político é altamente mobilizador porque atua convergindo pessoas, tecnologia e meios de comunicação num estreito caminho de aprovação e consolidação dos grupos eleitos democraticamente para exercer o papel de dirigentes nas principais decisões do país. Dessa forma, as organizações que detêm a legitimidade da governabilidade indicarão os rumos do Brasil. Não estamos falando em candidatos, propriamente ditos, mas em candidaturas que compõem um conjunto de pessoas que opinarão sobre a realidade de todos os brasileiros.
Há no Brasil uma idealização de candidato, onde parece que aquela pessoa irá salvar a todos e trará a solução só com a sua presença. Na verdade, devemos estar atentos porque a realidade não se reduz ao que pode ser visto. Todo tipo de promessas se baseia num discurso que se inscreve no cotidiano dos eleitores, não querendo descaracterizar nenhum candidato, mas as campanhas eleitorais não podem ser resumidas a instrumento de promessas e imagens publicitárias. E aqui está o papel fundamental da psicologia social no contexto eleitoral: desmistificar as ilusões da consciência, da consciência como ilusão, assim clarificando as implicações discursivas dos candidatos e propondo ao eleitor, através da responsabilidade de si próprio, uma ‘libertação’ das crenças ingênuas e deterministas que permeiam a política brasileira.
Viver a democracia
Nossa ênfase no aspecto eleitoral se refere à importância que tem esse momento na vida dos eleitores brasileiros. No entanto, muitas vezes, as eleições são destituídas de valor pelos veículos de comunicação social, por exemplo, quando ocorre uma ‘igualização’ dos candidatos: Todo político é igual, não tem diferença nenhuma ou todos os políticos são corruptos, farinha do mesmo saco. Os comentários acima expõem o pensamento e a crença que vigora em alguns setores jornalísticos brasileiros, onde há uma tentativa desenfreada de banalizar a democracia através de um sensacionalismo midiático que faz uso indevido de sua influência impondo julgamentos, definindo verdades, discriminando e classificando o comportamento dos candidatos.
Aqui está o ponto deste artigo em que os brasileiros e brasileiras precisam se manter atentos à conotação com que é dada a notícia e tentar perceber as estratégias ideológicas que impõem um jeito de tratar a informação. Ou seja, não se flagrar apenas nos comentários, mas se perguntando: como funciona a publicização de uma notícia? Uma dica para esse questionamento é colocando em confronto a informação e a forma como ela é conduzida. Por exemplo, assim como os comentaristas nos propõem pesquisarmos a vida dos candidatos, o que de fato é muito importante, devemos também conhecer a passagem histórica, a origem de nossos importantes apresentadores e comentaristas. Assim, clarificar-se os relatos e, porventura, legitimar-se o jornalista a fazer tais afirmações. Pense a respeito disso.
Finalizando, acreditamos que, de repente, a resposta aos nossos anseios pode ser encontrada nos debates eleitorais, que nada mais são do que o confronto direto entre pontos e contrapontos. Entretanto, o que estamos propondo, já que tanto se tem falado a respeito de preparação de candidato para os debates, é que os eleitores também devem estar preparados para os diversos debates. Geralmente, é nesses espaços de discursos que ocorre a idealização de candidatos através do que assistimos e não do que questionamos, lembrando sempre que a realidade não se reduz somente ao que é visto, pois a mesma se encontra interligada ao conjunto e pressupõe uma abertura à comunicação, atentando-se que esta não pode ser vertical, ou seja, somente de candidato para eleitor, mas dialogadora, tendo o eleitor a oportunidade de dizer sua palavra ao candidato e perguntar o que lhe convém. E assim, verdadeiramente, viver a democracia.
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Psicólogo social