Nunca se falou tanto das entrevistas do JN com os candidatos ao Planalto. Petistas reclamam que Dilma Rousseff recebeu tratamento mais duro do casal de entrevistadores. Tucanos comemoram o desempenho de José Serra. Em comum, há o reconhecimento tácito de que William Bonner e Fátima Bernardes enfim abriram as cortinas do espetáculo eleitoral.
O predomínio da TV na campanha (e, na TV, da Globo) é avassalador. Mostrou-se equivocada a suposição de que as novas mídias (celular, internet, e-mail, redes sociais etc.) iriam ameaçar a hegemonia da TV na eleição. Elas se incorporam às campanhas como ferramentas de mobilização e guerrilha política, mas a definição do jogo está, mais do que nunca, atrelada ao desempenho dos candidatos na TV.
E na TV o que pesa de fato é o JN, além dos programas eleitorais. As campanhas inclusive organizam suas agendas em função do minuto diário de exposição que o telejornal da Globo lhes oferece. A era dos comícios chegou ao fim.
Chuva de promessas
Não deixa de ser assustador que, no seu contato com as massas, o maior constrangimento de um candidato à Presidência se resuma à entrevista de 12 minutos no JN.
Ninguém, no entanto, deve esperar que os debates (que de resto pouca gente aguenta) acrescentem muito à democracia. As regras são engessadas e os atores ali não passam grande sufoco. Perto do que se vê nos EUA, fazemos teatro infantil.
Os debates, cada vez mais, se resumem a uma guerra de siglas. São os PACs, as UPAs e as UPPs contra as AMAs, as AMEs e as Fatecs. Para os sem ProUni, que tal o ProTec?
O ambiente foi esterilizado da retórica eleitoral de 20 anos atrás. O eleitor agora vive sob o bombardeio de promessas em jargão tecnocrático (ou tecnopublicitário). Mas algo parece ter mudado: até há pouco, discutia-se quem seria capaz de dirigir o carro melhor, ou com mais segurança; agora, discute-se quem pode acelerar mais, ou entregar mais siglas na casa do eleitor.