Não tenho dúvida: o futuro do livro é digital. Minha convicção está ainda mais reforçada depois de participar do Fórum Internacional do Livro Digital, que antecedeu a abertura da Bienal do Livro de São Paulo, na semana passada.
Com base na visão dos três palestrantes – o norte-americano Mike Shatzkin, o inglês John B. Thompson e o brasileiro Jean Paul Jacob – descrevo, por minha exclusiva responsabilidade, o que poderá ser, em 2025, a mais famosa enciclopédia virtual do mundo da UniPaedia (Universal Encyclopaedia), acessível por meio do SmartPad, o e-reader do futuro.
Essa enciclopédia conterá algo equivalente a 100 vezes mais informação do que a Wikipédia que hoje conhecemos, escrita em mais de 200 idiomas.
Veja como funcionará a UniPaedia. Enquanto aperta a tecla do microfone, você diz com clareza ao e-reader o tema de sua consulta. Por exemplo: Jean-Jacques Rousseau.
Em menos de dois segundos, abre-se a página com o artigo principal sobre o grande filósofo franco-suíço.
No lugar de uma foto central da página, você tem um display de super high definition onde se exibem vídeos, filmetes ou de recursos de multimídia.
Colaborativa
Para minha surpresa, as imagens vão se sucedendo, num audiovisual incrível. Um avatar apresenta o filósofo com texto e áudio: ‘Jean-Jacques Rousseau, né le 28 juin 1712 à Genève et mort le 2 juillet 1778 à Emenonville, est um écrivain, philosophe et musicien genevois de langue française…’
Como prefiro fazer a consulta em minha língua-mãe, aperto a tecla de seleção de idioma e escolho o português.
O avatar retoma sua biografia: ‘Jean-Jacques Rousseau, nascido no dia 28 de junho de 1712 em Genebra…’ Ao fundo, o cenário da cidade suíça naquele ano.
Imagine a utilidade e o valor cultural de uma enciclopédia como essa com todos os recursos de multimídia, disponível em qualquer lugar do planeta, altamente colaborativa, permanentemente revisada e avalizada por especialistas das maiores universidades do mundo.
O livro é uma de minhas paixões. Ele me permite ler, reler e refletir no ritmo que mais me agrada, mais lento ou mais rápido, retornar às páginas anteriores, consultar o índice ou o glossário.
Mesmo assim, tenho muitas queixas do livro. À medida que a idade chega, começo a me sentir irritado com as letras miudinhas, os textos em corpo 7 ou mesmo 9, que não posso ampliar como no computador.
Imagine ler um livro de 400 páginas em corpo 7, ou, pior ainda, em dicionários e enciclopédias antigas.
A resposta a todos esses problemas é o livro eletrônico.
A Bienal de 2025
Estamos em plena Bienal do Livro de São Paulo-2010, que começou na semana passada e ainda se estende até o domingo próximo, no Anhembi.
Não perca a oportunidade de visitar o espaço da Imprensa Oficial, com uma exposição sobre o livro digital.
Visite tudo, fotografe, compre os livros que quiser, leve seus filhos, estimule-os a ler mais e registre o máximo de informações sobre o evento para compará-lo, daqui a 15 anos, com a Bienal do Livro de São Paulo-2025.
Naquele ano, você não precisará ir ao Anhembi. Até porque a Bienal não terá um local físico para sua realização, porque será inteiramente virtual, interativa, colaborativa e muito mais divertida.
Para a maioria dos especialistas, o livro como o conhecemos hoje estará praticamente extinto daqui a 30 anos, e só será encontrado em museus, nas últimas bibliotecas pessoais ou nas mãos de bibliófilos e colecionadores.
É claro que o livro impresso em papel não desaparecerá. Assim como os veleiros do século 18 não desapareceram totalmente – porque sobrevivem nos iates de luxo de hoje -, o livro poderá sobreviver, mas como um mercado de nicho, para edições de luxo, verdadeiras obras de arte, para reprodução das mais belas ilustrações.
E mesmo assim, combinando impressão especial com a tinta eletrônica (e-ink), papel eletrônico e nanopapel, capazes de resistir muito mais à ação do tempo.
Os sucessores do livro impresso em papel serão provavelmente livros digitais interativos, audiovisuais e multimídia, com novos conceitos, novos formatos e funções, como a UniPaedia acima descrita.
Mais leitores? Com o advento dos leitores eletrônicos e a universalização da tecnologia digital, é bem provável que cresça também o número de leitores, numa reversão surpreendente do declínio do hábito de leitura das novas gerações.
As primeiras ferramentas dessa revolução estão aí. São leitores eletrônicos como o Kindle DX da Amazon, o Sony e-Reader Touch PRS 500, o BeBook Neo, o Alex e-Reader, o PanDigital Novel, o Kobo e-Reader, o Barnes & Noble Nook, o Cool-er e, obviamente, a vedete mundial da Apple, o iPad. A Amazon espera lançar ainda este ano um Kindle de US$ 99.
Os e-readers atraíram e dominaram as atenções dos milhares de visitantes do Consumer Electronics Show 2010, em janeiro, na cidade de Las Vegas.
Eu já era otimista desde o lançamento dos primeiros leitores eletrônicos. Agora sou ainda mais, com os milhões de iPads vendidos pela Apple e com a informação mais impressionante da semana passada: a venda de livros eletrônicos para o e-reader da Amazon no primeiro semestre cresceu 200% em relação ao mesmo período do ano passado.
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Jornalista