Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Internet abriga debate sobre tabus sociais

Quando Manal al-Sharif postou um vídeo dela própria dirigindo seu carro em Al Khobar, na Arábia Saudita, e fazendo um apelo por um protesto coletivo para que fosse abolida a lei que proíbe que mulheres dirijam no país, obteve uma dura resposta do governo: nove dias na prisão. No entanto, ao contrário do que ocorreria no passado, a censura não anulou o debate sobre o tema. Pelo contrário, foi criada uma intensa campanha na internet em defesa de Manal e do direito das mulheres dirigirem.

Na rede social Facebook, foram divulgados comentários denunciando os príncipes da Arábia Saudita e clérigos que pediram que Manal fosse chicoteada. Mais de 30 mil comentários sobre sua prisão foram feitos em poucos dias no Twitter. A maior parte a defendia. Ironicamente, as redes sociais, que ajudaram a dar início aos protestos em todo o mundo árabe, são ambientes onde se vive o oposto da Arábia Saudita, onde reuniões em público são ilegais, mulheres não podem se misturar com homens desconhecidos e as pessoas raramente se socializam fora do círculo familiar.

Agora, cada assunto que contraria as políticas sauditas é virtualmente discutido online, incluindo o estado de prisioneiros sem julgamento ou pedidos de boicotes às eleições municipais em setembro. Essam M. al-Zamel, que ajudou a começar a campanha de boicote às eleições presidenciais, ressalta a força das redes: ao mesmo tempo em que não pode reunir 30 pessoas em uma sala, pode estar em contato imediatamente com mais de 22 mil no Twitter.

Todos os lados

Com o crescimento do debate sobre questões sauditas no microblog, ativistas notaram uma onda de novos usuários sem fotos que se descreviam com termos patriotas e atacavam críticos do governo. Muitos ativistas acreditam que tais usuários trabalham para o governo.

Procurando chamar a atenção para prisioneiros detidos por anos sem julgamento, ativistas postaram recentemente um vídeo no YouTube intitulado “Saudita ausentes”, com parentes de alguns dos 16 homens presos em 2007 acusados de tentar criar um partido político e ter ligação com o terrorismo. Somente em agosto do ano passado estes homens foram formalmente acusados.

Pouco tempo depois, foi divulgado um “vídeo resposta” intitulado “Sauditas estão presentes”, com uma entrevista do pai de uma garota saudita morta em um ataque da al-Qaeda e fotos de famosos dissidentes sauditas, com a frase “mantenha-os presos”. O major-general Mansour al-Turki, porta-voz do Ministério do Interior, nega qualquer envolvimento do governo nos debates na rede. Informações de Neil MacFarquhar [New York Times, 15/6/11].