A reformulação na TV Cultura acabou causando um atrito na ala do PSDB ligada à área cultural. O secretário de Estado da Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo, homem forte das administrações José Serra, concedeu anteontem à noite entrevista explosiva ao blog Poder Online.
‘A TV Cultura é uma ficção. É cool gostar da TV Cultura, mas ninguém assiste’, afirmou Matarazzo, argumentando que a programação não está na grade de ninguém. ‘Vai manter a TV Cultura desse jeito para ser marcada pelo Cocoricó (programa infantil)?’ E arrematou: ‘São R$ 80 milhões para quê? Pagar salários de conselheiros? Aqueles conselheiros nem assistem à TV Cultura.’
As declarações causaram mal-estar na emissora. Por força de lei, Matarazzo tem assento no conselho da Fundação Padre Anchieta, que rege a TV Cultura. Já na madrugada de ontem, Jorge da Cunha Lima, ex-secretário de Estado da Cultura, ex-presidente da fundação e conselheiro vitalício da instituição, reagiu às declarações de Matarazzo em seu blog.
‘Ninguém ganha salário no conselho, além do presidente, e isso por decisão do representante do Ministério Público’, afirmou Cunha Lima. ‘Quando fui presidente do conselho, também ganhei salário e trabalhava em tempo integral na TV, na cruzada em prol de uma TV pública independente, no Brasil e no exterior. Ganhei salário, da mesma forma que Andrea Matarazzo recebe salários em seus cargos desde que foi presidente da Cesp.’
Uma ‘diferença intelectual’
Procurado pela reportagem do Estado, Matarazzo não quis se pronunciar, apenas instruiu sua assessoria a reafirmar que defende integralmente as reformas que João Sayad, atual presidente da fundação, leva a cabo na emissora.
A reportagem apurou que ele discorda de alguns trechos da entrevista divulgada no blog e, em carta, retificaria certos pontos, mas seu discurso foi endereçado diretamente a Cunha Lima, que fez reparos às intenções de Sayad.
A sindicalistas, Sayad informou na quinta-feira que deverá demitir 450 dos 2.150 mil funcionários da emissora, empregados que prestavam serviços à TV Assembleia e TV Justiça. Ele também estimou em R$ 200 milhões a dívida da instituição, que pode crescer com novas sentenças trabalhistas, e analisa que há um pequeno contingente de funcionários trabalhando de forma irregular na televisão.
‘Eu não acho que a TV Cultura seja uma ficção. Ainda é o que mais se aproxima de uma televisão pública’, disse Cunha Lima à reportagem ontem à tarde. Ele afirmou que não teme o confronto com Matarazzo numa reunião do conselho porque acredita que se trata apenas de uma ‘diferença intelectual’ e não configura motivo para hostilidades.
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Jornalista