Ernesto Rafael Guevara de la Serna, dito ‘Che Guevara’, nasceu em Rosário, Argentina (14 de maio de 1928). Em 1951 iniciou uma série de viagens em motocicleta com seu amigo Alberto Granada, chegando até a Flórida. Em 1953 formou-se em Medicina, recomeçando as viagens, dessa vez somente pela América do Sul e com outro amigo, Calica Ferrer. Em 1956 casou-se com a peruana Hilda Gadeá, tendo uma filha, Hildita. Viajaram para a Cidade do México, onde Che conheceu Fidel Castro, sendo preso com outros cubanos por um período de dois meses.
Em 1956-57, já em Cuba, criou a ‘Segunda Coluna Revolucionária’ e, ao lado de Castro, participou da Batalha de Santa Clara, chegado a Havana vitorioso, com a derrubada do ditador Fulgêncio Batista.
Em 1959-60 tornou-se cidadão cubano, fez parte do governo castrista como ministro da Indústria e presidente do Banco Nacional. Casou-se em segundas núpcias com Aleida March, com quem teve quatro filhos (Aleidita, Camilo, Cali e Ernesto). Entre 1961-64 participou da Conferência dos Estados Americanos em Punta del Este, comandou a defesa da Baía dos Porcos e empreendeu longa viagem à África.
Em 1965 retornou a Cuba e apareceu pela última vez em público. No dia 1° de abril enviou carta a Fidel Castro renunciando aos cargos e à cidadania cubana, fato até hoje pouco esclarecido. Voltou à África a fim de ajudar aos revoltosos do Congo. Em novembro, retornou clandestinamente a Cuba para, com um grupo de fiéis colaboradores, preparar a revolução na Bolívia. Apesar de algumas vitórias, seu grupo se dividiu em dois e um foi totalmente aniquilado. Em setembro de 1967, em Valle Grande, foi cercado pelas forças regulares bolivianas, sendo ferido, capturado no dia 8 de outubro e executado no dia seguinte. Curiosamente, sua morte somente foi anunciada seis dias depois por Fidel Castro.
Escritos inéditos
Este é um brevíssimo relato da vida de Guevara. Todavia, el Che não representa uma unanimidade: dele se diz que é venerado por velhos barrigudos, esportistas decaídos e adolescentes, ou que morreu antes que se fizessem as contas. Durante sua passagem pelo governo cubano teria, com julgamentos sumários, levado ao paredão mais de 500 pessoas, tendo também dado início, em estilo stalinista, ao Campo de Guanacabides, onde foram confinados aqueles que tinham cometido pequenos crimes contra a moral revolucionária e precisavam ser reeducados.
Não faltando mais nada, dizem seus detratores que usava a boina basca para esconder a testa curta, sinal de pouca inteligência. Fato é que, com essa boina, foi-lhe feita uma foto por Alberto Korda que a deu de presente ao editor revolucionário italiano Giangiacomo Fertinelli, tornando-se uma das imagens mais famosas do século. Ou, como diz o jornalista Giminello Alvi: ‘Guevara tinha uma fotogenia perfeita, tivesse nascido tempos depois teria feito carreira em Hollywood’.
Mas existe um lado de Guevara pouco conhecido, a do grafômano: anotava tudo que lhe acontecia. Era também muito sarcástico e duro no julgar suas ações e as daqueles que estavam a seu lado. Deixou um imenso arquivo, algo como oito enormes baús, segundo Carlos Franqui, ex-diretor de Revolución, o primeiro jornal livre cubano da pós-revolução, fechado por Castro e mais tarde sendo substituído pelo Granma – o Pravda de Havana. ‘Os baús me forma mandados por Fidel Castro logo após morte de Ernesto, quando eu estava no Arquivo Nacional’, conta Franqui. ‘O acordo era que eu os entregasse à viúva, Aleida March, e deviam ser lacrados, uma vez que sobre todo aquele material existia uma censura imposta pelo líder da revolução, ou seja, o próprio Fidel Castro.’
Especialistas do mundo inteiro em Che Guevara se perguntam por que, após quase 40 anos de sua morte, nem os cubanos nem o mundo podem saber o que contêm os baús seqüestrados por Fidel Castro.
Parece que o próprio Castro sepultou o acervo e se recusa a tornar público, especialmente em Cuba, tudo aquilo de Guevara, que poderia ainda hoje resultar-lhe incômodo. Mas na própria ilha começa-se a ouvir alguma voz perplexa e pasma com a idéia de que possam existir escritos inéditos do Che.
Celia Hart, filha de dois heróis da revolução (Armando Hart e Haydée Santamaria), escreveu Canto intimo, no qual pergunta as razões da censura. ‘Fico transtornada – escreve Célia, que vive em Havana – com a idéia de que existam escritos inéditos do Che. Depois de tanto tempo, quem pode pretender o direito de privar-nos da primavera? Não sou uma especialista na obra de Guevara, mas me recuso a reconhecer o direito de qualquer ser humano de decidir aquilo que devo ou não devo ler do Che’.