Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quem lê jornal na rede?

Se tem uma coisa que a web fez/faz muito bem é propiciar uma efetiva segmentação do público. Vejamos o caso dos blogs: há aqueles que tratam dos mais diversos assuntos, de política a jornalismo, de vinhos finos a cultura hippie. Quando acessamos a web, temos a sensação de que tem um pedacinho ali feito especialmente pra nós, um pedacinho que atenderá a nossa demanda, na rede, tudo é ofertado. É mais ou menos como diz um colega jornalista: ‘O que não está no Google, não existe!’

A partir disso, um recurso usado por alguns sites tem chamado a minha atenção. A coluna das notícias ‘Mais lidas’ traz, como o nome reclama, aquele conteúdo que teve um maior número de acessos durante certo espaço de tempo. A Folha UOL, G1 e R7, alguns dos principais sites brasileiros, usam e abusam desse recurso, conferindo, inclusive, um espaço estratégico e significativo na tela principal (home, para os mais aficionados).

Entretanto, o que é mais perceptível no conteúdo das ‘Mais lidas’ é a diversidade de matérias de um site a outro, numa escala comparativa, da Folha UOL ao G1 e R7. Indago: Será que a partir das matérias mais lidas é possível conhecer o perfil do público leitor?

Um resquício do impresso nas veias

Vejamos as mais lidas de cada um dos três sites citados acima, no dia 19 de agosto de 2010, mais precisamente às 15h38m, já que na web tudo se transforma, a todo tempo.

G1: ‘Na China, bebê de 10 meses já tem 20 quilos e intriga médicos’; ‘Mulher é assaltada pelo próprio marido no interior de São Paulo’; ‘Crianças encontram granada no quintal de casa, no Triângulo Mineiro’.

Folha UOL: ‘Serra acusa governo de financiar ‘blogs sujos’ e perseguir jornalistas’; ‘Veja os bastidores do debate Folha/UOL entre candidatos à presidência’; ‘Intel anuncia compra da McAfee por US$ 7,7 bilhões’.

R7: ‘Azeda de vez a relação de Xuxa com Wolf Maia’; ‘Quando os bichos fazem coisas esquisitas’; ‘Garotas usam seios como distração antes de roubar’.

Nos exemplos acima, a Folha está literalmente entre a bizarrice. O conteúdo mais lido de sites importantes como o G1 e o R7 é o inusitado. Quem é o público que se interessa por ver um bebê de 20 quilos? Qual é o público, segmentado, que gosta de ver seios de garotas assaltantes? Enfim, esse público ‘irado’ e, até que me provem ao contrário, ‘segmentado’, com certeza tem dado um nó na cabeça dos jornalistas ditos sérios. Seria o público da web, necessariamente, um público que incorpora futilidades. Afirmo isso porque parto do princípio incerto de que G1 e R7 conseguem ter um público mais genuinamente virtual aliado ao entretenimento herdado da televisão. Penso que o leitor da Folha UOL ainda tem um resquício do impresso nas veias, ou pelo menos, um gostinho pelo jornalismo mais tradicionalista.

Teoria da conspiração

Como se pode ver e para variar, já é possível fazer uma teoria da conspiração. Penso que os portais (ou webjornais?) diretamente e mais intimamente ligados a emissoras de TV, R7 (Record) e G1 (Rede Globo), acabam incorporando mais o escopo do entretenimento. Mas enfim, portais contêm webjornais? Webjornais são portais de notícias? Essas são algumas das perguntas que ainda confundem todos os técnicos e estudiosos da área virtual. Uma missão a mais, para tentar se classificar o que representa cada um desses gêneros, estilos ou seja lá como você quiser chamar.

É possível? Talvez. A web ainda está naquela busca constante de se descobrir. Descobrir o que funciona e o que não funciona. Descobrir qual é o tal do público segmentado. Descobrir o que dá audiência e principalmente, o que é audiência quando falamos de internet. Como no jornalismo nada se perde e tudo se transforma, se por um lado temos um bem definido jornalismo no suporte papel, precisamos continuar seguindo para compreender o jornalismo praticado no suporte virtual. Ah! E ambos são jornalismo, sim…

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Professor