Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Horrores e desamores na internet

“Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. Acautelai-vos dos homens…” (Mt. 10. 16-17)

Não obstante a citação bíblica feita acima, este não é um texto de cunho religioso. Muito menos é um artigo ingênuo, simplista, “cego” para com a realidade. Ele não se enquadra na categoria dos escritos demagógicos, alienantes, político-partidários, publicitários, abstratos; e nem é mera dissertação simplória escrita por um jovem universitário que vê os textos críticos como instrumentos de transformação social. Pelo contrário. Este é um texto realista, astuto, despido de falso moralismo, hipocrisia e alienação. A inspiração para sua criação foi extraída tão somente da práxis, das vicissitudes da sociedade brasileira atual.

Este artigo analisa a vultosa quantidade de encontros amorosos marcados na internet que resultam em tragédia no Brasil. Assunto extremamente polêmico, recente e delicado, em cuja essência encontramos revolta, dor, lágrimas, sofrimento, angústia e gritos desesperados por “justiça”. Não considero fácil escrever sobre tema tão trágico, sinistro e “cinzento”. Prefiro dissertar sobre temas descontraídos, bem-humorados, otimistas, alegres. Porém, a minha consciência de escritor e o meu espírito crítico me impelem a prosseguir escrevendo, analisando, criticando, buscando soluções para esse grave problema social.

Se, com minhas palavras, não for possível acabar com trágicas mortes e lesões decorrentes de relações virtuais, espero, pelo menos, conscientizar você, caro leitor, dos perigos que rondam a rede mundial de computadores.

Psicopatas, pedófilos, assassinos

De acordo com pesquisas recentes o Brasil ocupa o 8º lugar na audiência mundial da internet e possui o maior número de internautas na América Latina, com cerca 43,2 milhões entre usuários ativos e 73,9 milhões entre os que possuem acesso. Tais números são exorbitantes! Não há dúvidas de que a internet está presente no cotidiano de milhares e milhares de brasileiros. Ela já faz parte das suas vivências, da sua cultura, dos seus costumes, hábitos e rotinas.

Esta é a hodierna sociedade high tech brasileira: altamente antenada aos diversos sites, blogs, fotologs, chats, redes sociais, tendências virtuais; excessivamente dependente de softwares, hardwares, computadores, notebooks, pen drives, e-mails, wireless, bluetooths, como se eles fossem extensões orgânicas indispensáveis à sobrevivência. Em tal contexto, é perceptível um processo crescente de virtualização das relações humanas; fato digno de pesar e insatisfação quando se leva em consideração os perigos presentes no meio virtual.

A facilidade na criação de perfis falsos nos sites de relacionamento, a possibilidade de anonimato, a enorme quantidade de internautas carentes buscando relacionamentos amorosos, a ilusão de segurança e proteção, a instantaneidade da comunicação, a exposição excessiva da vida privada são apenas algumas características que fazem da internet um ambiente favorável ao ataque de pessoas mal intencionadas, “lobos que se vestem em pele de cordeiro e ficam à espreita, esperando aparecer algum internauta ingênuo, alienado ou sentimentalmente carente para dar o bote fatal”.

De tempos em tempos aparecem, nos diversos meios de comunicação, notícias trágicas sobre relacionamentos virtuais que resultaram em morte ou em qualquer outra lesão à dignidade, à integridade física ou patrimonial da pessoa humana. Isso ocorre porque na internet há um número vultoso de criminosos atuando silenciosamente atrás da tela de um computador: psicopatas, pedófilos, estupradores, golpistas, assassinos, sequestradores. Oportunistas, eles aproveitam a liberdade quase irrestrita e a ínfima fiscalização por parte do Poder Público e das empresas virtuais para delinquirem.

Conhecimento, malícia e sabedoria

Se você, caro leitor, fizer uma pesquisa sobre o assunto, verá que a internet é um local menos seguro do que se imagina; lá, criminosos agem às escondidas sem deixar rastros, pistas ou evidências de muitos dos seus crimes; se escondem atrás de identidades, perfis, contas e personagens falsos; enganam, dão golpes, injuriam, iludem, caluniam, roubam, prejudicam e planejam maldades e atrocidades hediondas. Pais que não acompanham e fiscalizam o uso da internet pelos seus filhos menores de idade também contribuem, indiretamente, para o ataque desses facínoras, pois os internautas infanto-juvenis são presas fáceis para eles, que usam todo recurso possível para seduzirem, atraírem, cativarem e enganarem suas inocentes vítimas.

As tragédias decorrentes de encontros marcados na internet podem ser subtraídas e até erradicadas se a sociedade brasileira se conscientizar sobre o correto uso da Rede e também exigir do Poder Público e das empresas responsáveis pelos diversos sites maior fiscalização das relações virtuais como meio de coibir as práticas delituosas. Exigir dos sites de relacionamento e dos que oferecem serviços de comunicação instantânea uma maior rigidez, controle e formalidade na criação de contas e perfis é, também, uma das alternativas para se evitar a proliferação dos inescrupulosos, celerados e perversos criminosos do “mundo virtual”.

Encerro este artigo advertindo todos os leitores para que se armem de todo conhecimento, malícia e sabedoria possíveis antes de “navegarem nas águas turvas da internet”, pois isso pode salvar vossas vidas e resguardar a vossa incolumidade física e patrimonial.

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[Rafael Kesler é estudante de Direito, Araguari, MG]