Com destaque na Folha de S.Paulo, vira notícia recorrente, neste começo de semana, a eventual mobilização dos partidos com vistas ao período pós-eleitoral. A imprensa garante que aliados do atual governo, diante da possibilidade de vitória de sua candidata já no primeiro turno, discutem a partilha dos melhores cargos no futuro ministério.
Por outro lado, afirmam os jornais, a oposição reconhece que corre sério risco de ver sua presença reduzir-se gravemente no cenário nacional e começa a discutir estratégias para sua sobrevivência nos estados onde ainda possui a maioria dos eleitores.
A se julgar pelo noticiário, nos dois lados do espectro político predomina a convicção de que a tendência mostrada pelas últimas pesquisas de intenção de voto deverá se acentuar ainda mais nas futuras rodadas de consulta aos eleitores, o que significa que a diferença em favor da candidata Dilma Rousseff pode aumentar nas próximas semanas.
A terceira via, representada pela senadora Marina Silva, não conseguiu se descolar do discurso ambientalista e ficou muito aquém de sua ambição inicial – a de repetir no Brasil o fenômeno Barack Obama. Os chamados partidos de esquerda seguem sendo uma mera curiosidade no horário eleitoral.
A maior bancada
Em meio ao ruído das declarações de campanha, quando a verdade costuma desaparecer sob o amontoado de factóides inventados pelos ‘marqueteiros’, é possível pinçar algumas informações curiosas sobre o que realmente preocupa os políticos, segundo a imprensa.
Em primeiro lugar, nota-se que não há referências, nem no discurso dos governistas, nem no da oposição, a planos de reforma em questões que a própria imprensa vinha discutindo nos meses anteriores. Não se fala em mudança no sistema tributário, nada de reforma política, nenhuma palavra sobre alterações no sistema de financiamento das campanhas eleitorais.
A grande preocupação dos principais grupos políticos parece ser a formação de bancadas sólidas no Congresso. Nem que para isso tenham que eleger cidadãos claramente desqualificados para o mandato.
Impedidos, pela legislação eleitoral, de debochar dos candidatos em período de campanha, os humoristas não terão do que reclamar. Afinal, pelo que tudo indica, vão acabar ganhando a maior bancada, que será liderada pelo futuro deputado Tiririca.
A imprensa, pelo jeito, acha graça desse deboche.
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Observatório na TV
Alberto Dines:
É o julgamento do século ou, pelo menos, da primeira década do século 21. Mas é um julgamento secreto, clandestino, só conheceremos o veredicto final e talvez quando for demasiado tarde. O caso da iraniana Sakineh Ashtiani, acusada de adultério e cumplicidade na morte do marido, está comovendo o mundo, sobretudo porque se condenada pelos aiatolás será morta a pedradas.
A mídia internacional acompanha o caso, mas no estilo contemporâneo, intermitente, fragmentário. Nenhum veículo adotou a causa como sua. Hoje há causas demais e indignação de menos. Isto nos remete a um outro julgamento que empolgou o mundo há mais de um século na França, o famoso Caso Dreyfus, o capitão do exército francês condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo por um crime que não cometeu.
Nosso Rui Barbosa, então no exílio inglês, indignou-se. O grande escritor Emile Zola produziu a mais importante manchete de todos os tempos: ‘Eu Acuso’, denunciando o presidente da República francesa por acobertar um erro judicial. Alguém hoje teria a mesma coragem de Emile Zola? Aquele idealismo e aquela bravura do final do século 19 seriam possíveis nestes tempos modernos?
O papel da mídia no julgamento de Sakineh Ashtiani é o assunto da edição de hoje do Observatório da Imprensa na TV Brasil, às 22h, ao vivo, em rede nacional. Em São Paulo pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA.