Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Redes sociais para conter o extremismo

Nem no banheiro masculino dos vastos escritórios do Google em Nova York é possível fugir da enxurrada de novas ideias que alimenta esse gigante. Em vez de olhar para um espaço vazio, vi diante de meus olhos mensagens a respeito de “widgets de sinal” e das implicações de se ter cada “cadeia de texto” traduzida em 40 idiomas. Visitei o local para me encontrar com dois ex-funcionários do departamento de Estado que tentam agora fazer o bem para o mundo no domínio das redes, e não das comunicações diplomáticas.

J. Scott Carpenter, que já ocupou um cargo do alto escalão na seção do departamento de Estado dedicada ao Oriente Médio e acaba de entrar para o Google, me disse: “No Oriente Médio havia um imenso número de jovens que viviam em liberdade na rede e que eram então confrontadas com a estupidez de sua realidade, percebendo que as dinâmicas políticas não condiziam com a vida que levavam na rede.”

Carpenter trabalha com Jared Cohen, atual líder de uma nova unidade dentro da empresa chamada Google Ideas, depois de ter passado um breve período trabalhando para o departamento de Estado. Aos 29 anos, Cohen parte da ideia de que a tecnologia é agnóstica: pode ser usada em defesa da liberdade – como ocorreu de modo tão contundente de Túnis ao Cairo – tanto quanto pode ser usada para promover a repressão.

Uma mostra disso é uma iniciativa chamada Reunião de Cúpula contra o Extremismo Violento, que começou ontem e vai até amanhã em Dublin, na Irlanda. Nela serão analisados pontos de desequilíbrio de entrada e de saída: os fatores que impelem os jovens a se identificar com grupos violentos e também os que poderiam afastá-los dessas influências.

Mensagens simples

Mais de 80 “formadores”, como Cohen se refere a eles, estarão presentes. São ex-radicais islâmicos, ex-neonazistas, um colono israelense que abandonou a linha dura para defender a solução do conflito, ex-membros das gangues de Los Angeles.

Nos EUA se debate a retirada de muitos dos 100 mil soldados americanos no Afeganistão, em combate contra cerca de 100 agentes da Al-Qaeda e possivelmente 25 mil membros do Taleban, quando talvez fosse melhor que estivéssemos concentrados num outro conjunto de números: a penetração dos celulares no Afeganistão atingia 30% da população em 2009, chegou agora a 50% e chegará a aproximadamente 70% dela em pouco tempo.

Usama Hasan, médico da Universidade Middlesex, participará da conferência. Muçulmano, cresceu na Grã-Bretanha sentindo-se marginalizado em casa e se enfurecendo com aquilo que via no exterior – particularmente com a invasão israelense do Líbano em 1982. Estudante acima da média, frequentou a Universidade de Cambridge mas, durante uma temporada de férias de inverno, foi ao Afeganistão combater ao lado dos jihadistas em 1990. Depois do 11/9, ele se sentiu atraído pela Al-Qaeda.

Um breve período passado no Paquistão em 2003 o convenceu de que os líderes religiosos “eram fanáticos de mentalidade estreita”. A gota d’água foram os ataques terroristas de 2005 em Londres. “Foi então que percebi que deveria ser mais extrovertido na minha resistência a essas forças.” Ele acredita que os grupos mais vulneráveis são os jovens que se sentem muito isolados e veem a necessidade de corrigir os problemas que enxergam no mundo. Eles precisam de mentores carismáticos que tragam mensagens simples: “É errado matar pessoas, é errado odiar”.

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[Roger Cohen é ganhador do Prêmio Pulitzer, foi editor e repórter do Washington Post por 39 anos]