Alberto Dines, Janio de Freitas, Míriam Leitão, Dora Kramer, Arnaldo Jabor, Clóvis Rossi, Fernando Guimarães e Eliane Cantanhêde têm escrito sobre a amargura dos tempos politicamente incorretos da sucessão presidencial de 2010. Começa que os tempos são de políticos menores cheios de mensalões, escândalos diários, fichas sujas. Desde a República Velha, os partidos viraram balcões de negócios. Não adianta falar do presidente, que já foi punido várias vezes pelo Superior Tribunal Eleitoral. Foi sempre assim.
Nos idos de agosto de 1961, o líder da maioria (PSD, PTB, PR), José Maria Alkmim disse-me, em entrevista na TV Itacolomi, que o Brasil estava tentando construir a democracia e tudo parecia girar entre a esquerda e a direita. Estes grupos sempre foram sagrados pelo eleitorado. Disse ele que o Brasil do futuro não seria construído por uma inútil Constituição escrita, pois que, além de não ser cumprida, era sempre pisoteada por quarteladas militares, presidentes totalitários ou populistas.
Vivíamos o tempo de Jânio Quadros, que a 25 de novembro de 1961 acabou renunciando. Alkmim lembrou que se o presidencialismo configura um sistema de regime de governo capaz de definir responsabilidade e estabilidade, também está provado que ele não é próprio para dirimir as dúvidas que se estabelecem os brasileiros, num tempo atormentado como aquele que estávamos vivendo. A fuga para o porto de Santos de Jânio Eduardo Quadros e Carlos Lacerda fracassou e voltaram derrotados para o porto da Guanabara. O presidencialismo é autocrático. O parlamentarismo, no Brasil, teve vida breve, quando João Goulart foi ameaçado de não ser empossado. Crise que só não chegou a uma batalha realmente porque surgiu uma emenda propondo o parlamentarismo, que teve vida breve.
Voto popular sem sentido
Alkmim dizia então, a mim e ao colega Dênio Moreira, que o parlamentarismo foi mal interpretado no regime janguista, em razão da política de ódio que representava a Bossa Nova (UDN) contra o governo Goulart. Quando se declarou na França que o país de Voltaire chegou a ter 108 governos em 70 anos, a resposta pronta de Alkmim foi que teve 108 governos em 70 anos, mas, no entanto, não teve nenhuma ditadura em todo em esse tempo.
Hoje, se se falar em parlamentarismo, depois de tantos escândalos, é capaz de o povo, agora tão apático com a sucessão, ter coragem de votar pelo fechamento do Congresso Nacional. Sobrou, de fato, o poder do Executivo, que inventou a mãe do PAC (Dilma), voltando-se a discutir o nada pelo nada. E o voto popular – que em 1961 foi bem respeitado pelo mineiro Adauto Lúcio Cardoso, que lutou bravamente pelo respeito ao mandato de João Goulart – não teria qualquer sentido.
‘Sucessor precisa estar à altura do desafio’
‘Na oposição, a gente fala o que quer, mas no governo não é assim.’ Hoje, pragmático e negocista, o PT caminha para arranjar as coisas para Dilma Rousseff, já que lidera contra José Serra. Vejam os negócios partidários. O PT mandou Ciro Gomes sair da campanha e apoiar a candidatura de Aloísio Mercadante. Começou com discursos vazios e repetindo a palavra usada por Lula em 2002, cujo texto emblemático era ‘a esperança vence o medo’. O próprio Lula e Dutra, em texto ditado pelo telefone ao presidente do PT, e lido por Edinho Silva.
Minas era problema? Lula mandou Fernando Pimentel ficar com Hélio Costa (PMDB), que já perdeu duas eleições em Minas. O PT, com os aliados do alto empresariado nacional e bem visto pelos grandes do Primeiro Mundo, está nadando em praia sem ondas. Com a mídia, vai tudo bem. Lula é iletrado, mas tem gente a soprar no seu ouvido uma frase de Karl Marx em seu livro A liberdade de imprensa: ‘O primeiro dever da imprensa, portanto, é minar todas as bases políticas existentes.’ E mídia só depende de dinheiro. E para isto fabrica-se o caixa 2, dinheiro não contabilizado, e os mensalões. Mesmo assim, Lula navega no oceano de prestígio. De Lula, falou outro dia Marco Vicenzino, da Universidade de Oxford e diretor do Global Strategy Project do governo norte-americano:
‘Lula vem conseguindo encontrar o mundo. Será impossível encontrar alguém que possa reproduzir o que ele faz no palco internacional. O sucessor de Lula precisa estar à altura do desafio’ (Folha de S.Paulo, 7/6/2010, ‘O Grande papel internacional do Brasil’).
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Jornalista, ex-presidente do SJPMG