Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Caça às “bruxas”?

“Vale a fantasia de trocarmos o nome Instituto por outro mais característico – a bruxa Alana, que odeia criancinhas.” Essa frase resume a falta de seriedade e de compromisso do Conar com a ética e com a sociedade brasileira. Ela consta noparecerdo conselheiro Enio Basílio Rodrigues sobre denúnciaque o Projeto Criança e Consumo fez à entidade contra uma campanha do McDonald´s durante o trailer da animação infantil Rio.

A representação enviada ao Conar teve como base argumentos jurídicos, científicos e políticos para questionar a publicidade do McLanche Feliz com brindes do filme Rio, que falava diretamente com crianças menores de 12 anos. Ainda mostrava como a empresa feria seu próprio código de ética e o acordo de autorregulamentaçãofirmado junto à Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) e à ABA (Associação Brasileiras dos Anunciantes), em 2010.

Segundo esse acordo, o McDonald´s não poderia anunciar nada, nenhum tipo de produto, para crianças menores de seis anos. Acontece que o filme Rio tinha classificação indicativa livre e milhares de meninos e meninas pequenos foram impactados pela campanha. Vale lembrar que a tal publicidade chamava mais atenção dos brinquedos com personagens do filme do que do produto em si, induzindo a criança a querer o McLanche para ter os brindes.

Publicidade prejudica educação alimentar

A venda de alimentos com brinquedos vem sendo criticada em todo o mundo – e definitivamentenão é uma bandeira só do Instituto Alana. No Brasil, o Ministério Público Federal instaurou inquéritoem 2009 para investigar essa prática em três cadeias de fast food. A Assembleia de Belo Horizonte acabou de aprovar um projeto de leique proíbe venda de lanches com brindes para crianças. Fora as várias proposições que tramitam no Congresso Nacional sobre essa questão.

Mas o conselheiro do Conar se limitou a dizer: “Da mesma forma que Suécia e Dinamarca têm por base evitar que suas crianças de olhos azuis fiquem gordinhas, o Brasil tem por base acabar com a desnutrição dos nossos meninos moreninhos.” E o que o Conar tem a dizer a respeito do dado do Ministério da Saúde de que 30% de nossas crianças estão com sobrepeso e 15% já estão obesas?

O parecer de apenas duas páginas tem distorções e ofensas que jamais foram vistas em cinco anos de atuação do Projeto Criança e Consumo. E vale ressaltar: mesmo com tantos absurdos, o Conselho do Conar votou por u-na-ni-mi-da-de a favor do parecer. Por isso, pela total falta de respeito com que esse caso foi julgado, não reconhecemos mais o Conar como uma entidade séria e legítima para garantir a ética na publicidade brasileira. Entendemos que uma autorregulamentação como essa de fato não protegerá a infância brasileira dos abusos comerciais.

É preciso uma legislação específica que proteja nossas crianças desses abusos. De novo: essa não é somente uma preocupação do Alana, mas também de 76% dos pais brasileiros que afirmaram em pesquisa do Datafolhaque a publicidade de fast food prejudica seus esforços na educação alimentar de seus filhos.

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Repercussão nas redes

Após a publicação de nota na coluna da Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo de ontem (29/6), o parecer do Conar sobre denúncia feita ao McDonald´s, que continha comentários e piadas ofensivas ao Instituto Alana, repercutiu na mídia e nas redes.

Leia abaixo a íntegra da nota publicada na Folha:

Bruxa

O Conar, órgão que regula a publicidade, arquivou a denúncia do Instituto Alana contra comercial que o McDonald´s exibia antes das sessões do filme Rio. O parecer, assinado por Enio Basilio Rodrigues, diz que “vale a fantasia de trocarmos o nome [do] instituto por outro mais característico – a bruxa Alana, que odeia criancinhas”. E ainda: “Ao contrário dos EUA, aqui o McDonald´s não é vício, é aspiração.” “Cada vez mais crianças pedirão um brinquedo para o pai e este orgulhosamente dirá: `Sim, eu posso. Queira ou não a Alana´.”

Bruxo

O Instituto Alana diz não respeitar mais o Conar. “Até esse voto, reconhecíamos o órgão como um conselho de ética. Mas nos desrespeitam, com difamação e injúria. Isso mostra claramente que a autorregulamentação não é séria”, diz a advogada Isabella Henriques, do Alana. O Conar diz que seu relator tem “liberdade plena de opinião”, ainda que elas “pertençam só a ele”.

Abaixo, alguns perfis que repercutiram o caso no Twitter:

@julio_hungria:Acho que o relator perdeu a razao qdo se deixou levar pela piadinha
@Lalolealfilho: Conar debocha do Instituto Alana e acaba com o pouco que ainda tinha de credibilidade. Autoregulamentação só interessa a quem autoregula.
@Lalolealfilho:Minha solidariedade ao Instituto Alana, entidade séria e respeitada, afrontada com deboches pelo Conar.
@elisaaraujo:Relator do Conar debocha do Instituto Alana e arquiva denúncia contra o McDonald’s feedproxy.google….
@institutoakatu:Que papelão, Conar!!! Desrespeitar dessa maneira o Instituto Alana, uma ong com trabalho excelente alertando sobre… elisaaraujo.com.br…
@andicomunicacao: Para Instituto Alana (@criancaeconsumo) o CONAR extrapolou os limites da ética e do razoável tinyurl.com/3hhe…
@luisnassif:O caso do Instituto Alana no Conar: Cláudia Stefani Da . http://bit.ly/iiQZBi

E você? O que acha do parecer do Conar? Leia a íntegra do parecer em PDFe opine.