O ataque de fúria de Charlie Sheen assumiu várias formas: um rebuliço movido a cocaína em um quarto de hotel em Nova York, um extravagante discurso no rádio e uma turnê vulgar de comédia de um homem só. Mas a sua maior contribuição para a cultura atual pode ter sido mais sutil.
Com uma simples frase no Twitter, “#winning” [#vencer], conhecida no jargão das redes sociais como uma hashtag, Sheen deixou em destaque uma das mais novas formas por meio da qual a tecnologia mudou o modo como nos comunicamos. Hashtags, palavras ou frases precedidas pelo símbolo #, têm se popularizado no Twitter como uma maneira de os usuários organizarem e pesquisarem mensagens. Pessoas tuitando sobre o deputado norte-americano Anthony D. Weiner, por exemplo, podem adicionar a hashtag #Weinergate, e quem estiver curioso sobre o escândalo poderia simplesmente pesquisar por #Weinergate. Ou os fãs de Justin Bieber podem usar #Bieber para encontrar outros “Beliebers”.
No entanto, as hashtags já transcenderam a plataforma dos microblogs de até 140 caracteres e transformaram-se em uma nova cultura de escrita rápida, encontrando seu lugar nas salas de bate-papo, nos e-mails e nas conversas cara a cara. No Super Bowl, a Audi transmitiu um novo comercial com a presença de uma hashtag, #ProgressIs, que aparecia no telão e exortava os espectadores a completar a frase “Progress is” (progresso é, em inglês) no Twitter e concorrer a um prêmio. E quando Chris Messina, um desenvolvedor do Google, quis apresentar dois amigos um ao outro por e-mail, ele escreveu “#introduction” [#apresentação] na linha de assunto. Não havia necessidade de um longo preâmbulo se bastava uma hashtag direto ao ponto, explica ele.
“Qualquer pessoa pode se juntar à máfia hashtag”
Porém Messina não é um usuário comum do Twitter. Ele se auto-descreve como “padrinho da hashtag”, tendo-a inventado em agosto de 2007, quando enviou uma mensagem no Twitter sugerindo que o símbolo do jogo da velha fosse usado para organizar grupos no Twitter. Embora a ideia tenha demorado um pouco para pegar, ela rapidamente se transformou em uma bola de neve no Twitter e offline. “Eu diria que 2010 foi realmente o ano da hashtag”, afirma Ginger Wilcox, fundadora do Social Media Marketing Institute.
Rapidamente, as pessoas começaram a usar hashtags para acrescentar humor, contexto e monólogos internos a suas mensagens – e a suas conversas do dia-a-dia. “É possível vê-las sendo usadas como ironia ou como um tipo de metacomentário. Você escreve uma mensagem, mas não acredita realmente nela, pois o que verdadeiramente pensa está contido na hashtag”, afirma Jacob Eisenstein, pesquisador pós-doutorando em linguística computacional da Universidade Carnegie Mellon. Sendo assim, por exemplo, uma mensagem que diz “Três horas de atraso no trem Amtrak #DinheiroDeFinanciamentoTrabalhando” provavelmente implica que o usuário não acredita, de fato, que o seu dinheiro destinado para financiamento esteja trabalhando ativamente. “Uma coisa engraçada que tem acontecido é que as pessoas no escritório começaram a falar usando hashtags – Hashtag, desculpe-me, eu estou atrasado”, ou “Hashtag dia ruim”, diz Jane Olson, vice-presidente sênior de marketing da Oxygen Media.
Há também uma máfia da hashtag não-oficial: pessoas que sinalizam entre si o símbolo hashtag – cruzando os dedos indicador e médio de uma mão sobre os mesmos dois dedos da outra mão a fim de criar uma hashtag física. #GestoIrônico #Esperamos “Tenho foto de pessoas usando hashtag como se fosse um sinal de gangue, mas estão fazendo apenas uma hashtag”, diz Wilcox. “Isso acaba sendo algo muito nerd.”
Apesar de engraçado, Messina tem um ponto de vista mais filosófico. “O legal das hashtags é que, ao usá-las, qualquer pessoa pode se juntar à máfia hashtag”, diz ele. “Mas você só fará verdadeiramente parte da máfia se fizer hashtags que tenham significado subentendido.”
#ObrigadoPorLer
#SeVocêSequerConseguiuChegarAtéAqui
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[Ashley Parker é jornalista do New York Times]