Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Alagoas, duas pesquisas e um abismo

Desde julho que os alagoanos esperavam pela primeira pesquisa de fontes mais ‘tradicionais’ sobre as eleições no estado. Naquela ocasião, a pesquisa aferida pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino (Ibrape) apontava o ex-presidente, cassado por impeachment em 1992, Fernando Collor de Mello (PTB), com 38%, o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) com 26%, o atual governador Teotônio Vilela (PSDB) com 21% e Mário Agra (PSOL) com 1%.

Pesquisas de dois institutos foram divulgadas nesta terça-feira (24/8). Primeiro, através do jornal Gazeta de Alagoas, o Gazeta Pesquisas (Gape) anunciou a sua, realizada durante o dia anterior e que ouviu 1.055 eleitores. O resultado aponta uma distância maior de Collor para os seus concorrentes: Fernando Collor com 38%; Ronaldo Lessa com 23%; Teotônio Vilela com 16%; Mário Agra com 1%. Com esses resultados, o ex-presidente teria fortes chances de vencer no primeiro turno, com a somatória dos votos dos demais candidatos estando empatada, dentro da margem de erro, com a sua porcentagem.

O que poderia ser motivo de preocupação para muitos foi contradito na noite dessa mesma terça-feira. O Ibope Inteligência, sob encomenda da TV Gazeta, teve divulgada no telejornal noturno da emissora afiliada à Globo a sua pesquisa, realizada do dia 19 de agosto até o dia de anúncio da pesquisa (24/8) e que ouviu 812 pessoas. O resultado foi completamente diferente: Ronaldo Lessa com 29%; Fernando Collor com 28%; Teotônio Vilela com 26%; Mário Agra com 1%. Um equilíbrio que aponta, levando-se em consideração a margem de erro de três pontos percentuais, um empate técnico entre os três candidatos que já passaram pelo cargo.

Exemplo das eleições para o Senado

Duas coisas nos chamaram a atenção. Uma é óbvia e despertou um alerta em todos que acompanham a política no estado: a diferença nos resultados das pesquisas poderia apontar influência direta na elaboração das mesmas. Já a segunda é, a partir do primeiro aspecto apontado, o quanto de influência uma pesquisa pode gerar no eleitor.

O Gazeta Pesquisa (Gape) foi fundado em agosto de 1995 como mais uma empresa da maior organização político-midiática de Alagoas, a Organização Arnon de Mello (OAM). Segundo o site da empresa, ‘a pesquisa eleitoral de intenção de voto é realizada através de amostra ponderada, em locais escolhidos através de sorteio dentro do município, com re-verificação de 20% da amostragem’.

Filho do fundador da OAM, é a terceira vez que Fernando Collor é candidato com a existência do instituto de pesquisas e como os políticos da família sempre se utilizaram dos meios de comunicação como instrumento político, as discussões sobre interferência ou manipulação aparecem também no caso das pesquisas, especialmente com este caso.

Um exemplo a mais sobre isso vem das últimas eleições para o Senado, com participação de Collor contra Ronaldo Lessa. A última pesquisa Gape realizada e publicada na edição dominical da Gazeta de Alagoas no dia das eleições apontava vitória collorida por 49% a 27%. Nas urnas, o resultado foi bem mais apertado: 44,04% a 40,08%.

Resultado, só com apuração

A Organização Arnon de Mello possui a TV Gazeta, afiliada da Rede Globo e, consequentemente, com a maior audiência do Estado – mais de 70% de média diária; rádios em Maceió (AM e FM), Arapiraca (AM) e Pão de Açúcar (AM); um portal de notícias, Gazetaweb; e o jornal diário com a maior circulação em Alagoas – 15 mil a 20 mil exemplares; além de uma gráfica e do instituto de pesquisas Gape.

A nossa maior preocupação em torno disso tudo é quanto à influência que as pesquisas podem gerar nos eleitores e a pesquisa divulgada pelo Ibope traz um ponto importante como justificativa para esta preocupação.

Analisemos uma outra pergunta feita no questionário: ‘Independente da sua intenção de voto, quem o (a) senhor (a) acha que será o próximo governador de Alagoas?’ 37% dos eleitores responderam Fernando Collor; 23% citaram Ronaldo Lessa e 21% Teotônio Vilela. Percebam que a quantidade de votos praticamente reflete a pesquisa do Ibrape, supracitada.

Uma pesquisa, especialmente se ela pode indicar o término das eleições ainda no primeiro turno, pode fazer com que o eleitor vote em alguém já que ‘ele vai ganhar mesmo’. Ainda que no caso de Collor, devido à sua rejeição gerada pelo processo de impeachment quando era presidente do país, tais resultados possam criar um processo inverso, ‘forçando’ os indecisos e os decididos em anular o voto em votar num candidato opositor.

A mídia, através da divulgação destes resultados, não só agenda as discussões em torno de uma ‘previsível’ vitória de candidato A, como acaba por fazer com que os eleitores de candidatos adversários comecem a se acostumar com uma realidade diferente daquela desejada.

Por melhor que seja o método das pesquisas e/ou a maneira de divulgação das mesmas, só a apuração pode (e deveria) mostrar quem tem realmente mais votos e o quanto tem. As eleições passadas demonstram isso: enquanto o resultado das urnas apresentou a vitória de Teotônio Vilela ainda no primeiro turno sobre João Lyra (PTB), só a última pesquisa mostrava Vilela à frente para uma disputa de segundo turno.

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Estudante de Jornalismo, Maceió, AL