A Corte Constitucional da Colômbia, presidida por Mauricio Gonzáles Cuervo, em Comunicado de 17 de agosto de 2010, lavou a honra da América do Sul. Anulou os efeitos de mais um instrumento do desumano expansionismo militar promovido pelo governo de Hillary Clinton.
O contrato com a administração Clinton, segundo a Corte, desconstituiria o estado colombiano, ao impôr aos cidadãos da América do Sul as seguintes obrigações: (i) permitir acesso e utilização de instalações militares ao pessoal estrangeiro, militar ou civil. Ou seja, transferir o aparelho de repressão para os mercenários; (ii) facultar livre circulação de barcos, navios, aeronaves e veículos de combate estrangeiros pelo território da Colômbia, sem a possibilidade de inspeção ou controle pelas autoridades colombianas. Ou seja, extinguir o estado democrático pela revogação da autodeterminação; e (iii) autorizar porte e uso de armas para o pessoal estrangeiro. Implementado o pacto, ao viver na Colômbia, o melhor seria não ser colombiano.
Aliás, a continuação é tão ultrajante que me parece mais adequado apenas transcrever o texto-resumo da Corte Constitucional:
‘ (iv) extensión de un estatuto personal de inmunidades y privilegios diplomáticos para contratistas y subcontratistas así como personas a cargo del personal de los Estados Unidos;
(v) y la previsión de cláusulas indeterminadas en relación con la extensión y prórrogas del Acuerdo, las bases militares e instalaciones objeto del acceso y uso por el personal extranjero.’
O item (v) é extravagantemente metafísico. Sua implementação corrói os direitos e liberdades individuais presentes e futuros.
O número cabalístico
A forma como a imprensa tem abordado o tema até agora (21/08) é embasbacante. O New York Times e o Washington Post, como de costume, reiteraram o imbecilizante discurso da demonização. Blame it on Chavez, disse um; está em crise a divisão de poderes na América do Sul, disse o outro. Tachando, nas entrelinhas, o judiciário colombiano de bolivarista.
A imprensa nacional não foi muito mais longe do que apenas copiar e colar as manchetes do ano passado, época em que o texto do pacto não fora divulgado ao público. Então, obedientemente guiados pelas agências, os veículos brasileiros enfatizaram o cabalístico número 7. São sete bases militares. Para o público conservador estadunidense, este número era tão mais apropriado quanto mais seus jornais se dedicavam a massagear o orgulho narcisista dos leitores. Great America.
******
Filósofo, linguista, professor, programador e malabarista free lancer, Florianópolis, SC