Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A triste velhice da revista Veja

A velhice é sempre digna e merecedora do mais alto respeito. Muitos envelhecem como o vinho, cada vez melhores. Para outros, infelizmente, o peso dos anos traz efeitos contrários. É o caso da revista Veja (São Paulo, Brasil), que caminha – cada vez mais triste – para meio século de existência (2017). O semanário Veja, com certeza, já produziu as melhores manchetes do país. Hoje, suas páginas estampam um jornalismo perigoso, desprovido de ética e profissionalismo, um jornalismo que aparenta ter um “patrão misterioso” e presta um enorme desserviço ao Brasil.

Senão, vejamos: de forma sistemática – desde que o presidente assumiu pela primeira vez – Veja tem criticado o coronel Hugo Chávez, da Venezuela. O principal alvo nos últimos anos tem sido o ditador. Toda semana são publicadas “pérolas” que o chamam de “mercenário”, “comunista ultrapassado” e até mesmo “falastrão”. Veja tem todo o direito de criticá-lo; discordar faz parte do nosso ofício. O estranho nessa cruzada é que a revista não tem tratado assim os países do outro lado. A proporção de páginas a favor das grandes potências chega a ser preocupante.

Não sou amigo pessoal de Chávez nem morro de amor por seu governo. Afinal, odeio os ditadores e sinto pena dos oprimidos. O que me abate é ver a revista esquecer o maior de todos os princípios do jornalismo: ouvir o outro lado.

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[Gérson Siqueira é jornalista e membro da ABI – Associação Brasileira de Imprensa]