Marco da televisão brasileira, o Roda Viva, da TV Cultura, inaugura amanhã [segunda, 30/8] um novo ciclo.
Marília Gabriela, 62, estreia como apresentadora, tendo a seu lado dois debatedores fixos, os jornalistas Augusto Nunes e Paulo Moreira Leite, e outros dois convidados. O programa também deixa de ser exibido ao vivo.
A expectativa de Marília com a estreia é a melhor possível. Ex-apresentadores do programa ouvidos pela Folha, no entanto, apontam desafios.
A manutenção de dois outros talk shows de Marília no ar, no SBT e no GNT, gera questionamento. E o formato com dois debatedores fixos também.
Quando foi concebido, em 1986, ainda sob o impacto das Diretas, o objetivo do Roda Viva era assegurar a pluralidade de opiniões, trazendo uma bancada de diferentes entrevistadores.
Como o programa era exibido ao vivo, havia mais espaço para a intervenção dos telespectadores.
E a aparição de Marília Gabriela em anúncios de margarina e de software – não haveria um conflito de interesses? A estas perguntas a jornalista respondeu na entrevista a seguir.
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No que o Roda Viva se diferencia dos seus outros programas?
Marília Gabriela – São todos de entrevista, mas no Roda Viva faço o papel de mediadora.
Como são selecionados os entrevistados? Não há conflitos com outros programas?
M.G. – Não vejo assim. Nas listas que estamos fazendo, a gente senta e decide onde determinada personalidade vai encaixar melhor naquele momento e dentro das características de cada programa. O Ronaldo, que já esteve no SBT, poderia perfeitamente aparecer no Roda Viva neste mês. Agora vou estrear com o Eike Batista, que já entrevistei no GNT.
A bancada com dois jornalistas fixos não pode engessar o programa?
M.G. – O que me perturbava era um número imenso de participantes, todos querendo falar, e mudando de assunto rapidamente. As ideias ficavam truncadas. Um programa novo, após quase 25 anos, era o mínimo a fazer.
O cenário muda?
M.G. – O formato da roda continua, mas o programa não tem mais aquela arena em que o entrevistado ficava em um plano inferior com todo mundo lá em cima.
Você continua fazendo publicidade?
M.G. – Fiz pelo menos três peças neste ano, e sabe por quê? Porque me sustenta maravilhosamente. Aí eu posso trabalhar na Cultura e ficar satisfeita.
Comenta-se que seu salário será de R$ 150 mil.
M.G. – Não é verdade. É menos que um terço disso. Estou na Cultura por outros motivos, não por salário. Agora, publicidade eu faço há anos. Não acho que isso comprometa.
Você está vendendo sua credibilidade, é delicado.
M.G. – Muitos jornalistas podem não aparecer fazendo publicidade desse porte que eu fiz, mas fecham contrato para apresentar eventos corporativos ou dar palestras. Eles fazem e não aparece em público, enquanto criticam quem aparece fazendo. Acho tudo muito hipócrita.
Mas são trabalhos distintos.
M.G. – Honestamente, a mim não faz tanta diferença você dizer que determinado jornalista viajou a convite de uma companhia aérea ou eu aparecer assinando um trabalho. De uma forma ou de outra, estamos sendo patrocinados.