A frase do título ficava ótima quando dita por Kate Lyra, bonitinha, simpática, engraçada, esposa de um monumento da música brasileira, Carlos Lyra. Talvez por isso o ministro Franklin Martins evite pronunciá-la. Mas faz tudo e não poupa recursos (desde que sejam os nossos) para mantê-la verdadeira.
A nova e grande festa é o patrocínio da visita de onze jornalistas estrangeiros para acompanhar as eleições. Dois dos jornalistas pagam as próprias despesas; os outros nove viajam por nossa conta – ou melhor, da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, a Secom de Franklin Martins. Mas a Secom não está sozinha: tem auxílio da Petrobras, do Banco do Brasil e da Eletrobrás, todas empresas do governo.
Há alguma dúvida internacional sobre a validade das eleições no Brasil, o que explicaria o convite aos jornalistas? Não, não há dúvida nenhuma. Então, para que pagar a visita dos jornalistas estrangeiros, como se o Brasil estivesse comprando suas reportagens? É algo como o que se fazia antigamente, na época do Carnaval: convocavam-se astros de Hollywood, com tudo pago e hospedagem no Copacabana Palace, bebida à vontade (o que explica a atitude da lindíssima Rita Hayworth, de jogar todos os móveis de seu apartamento pela janela), e entrevistas do playboy Jorginho Guinle contando como tinha conquistado as mais belas e famosas atrizes do cinema. Os artistas aprendiam a falar ‘obrigádou’ e o público se envaidecia quando diziam que não havia país mais bonito do que o Brasil. Claro que só voltavam quando convidados de novo, com tudo pago de novo.
Jornalista, é óbvio, não tem o status de astro de cinema. Vão obrigar os convidados a assistir ao debate entre os candidatos à Presidência, com tradução simultânea, conversar com os coordenadores das campanhas, ser recebidos por ONGs e a entrevistar um ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral. Não está no programa oficial, mas eles não escapam da visita a uma favela. Se não tiverem a sorte a seu lado, ainda terão de ouvir o senador Suplicy cantando em inglês.
Virão profissionais da Rússia, Estados Unidos, França, Alemanha, Inglaterra e Chile. É por isso que o convite inclui todas as despesas de viagem, hospedagem etc. Como países tão mais pobres que o Brasil poderiam arcar com o gasto?
Tudo lindo
Abra um caderno de Turismo de qualquer meio de comunicação: não há uma praia feia, não há sujeira, não há hotéis ruins, não há restaurantes que não sirvam refeições e petiscos divinamente deliciosos. Até o voo, com aquelas poltronas dimensionadas para pessoas de no máximo 1m60 e 40 kg, escapa de críticas.
Claro: as viagens são feitas a convite, sem despesas para o veículo. Não dá para falar mal. A mesma coisa acontece com os jornalistas estrangeiros convidados, por nossa conta, ao espetáculo eleitoral: vão gostar muito e destacar o crescimento do novo gigante mundial e a capacidade de seus magníficos dirigentes.
Meu candidato é…
A campanha vai-se desenrolando normalmente, com as irregularidades de costume, talvez mais acentuadas (nada que seja decisivo, ou que modifique de maneira importante a vontade do eleitorado). Mas, para quem se informar pelos jornalistas mais ferozes, a impressão é de que há, ou haverá, conflagração nas ruas. Multidões entoando ‘Serra, Serra’ enfrentarão multidões entoando ‘Dilma, Dilma’, todos dispostos a lutar e morrer por seus carismáticos líderes. Piores que os jornalistas são os integrantes do cordão de comentaristas, prontos a lutar até a última gota do sangue dos outros. Sangue, sangue. Veja:
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‘O tapetão pode se manchar de sangue’.**
‘Eu estou absolutamente tranquilo. Os postes estão nas ruas, imóveis e impassíveis, sempre à disposição do povo caso o povo queira pendurar os pescoços dos golpistas, velhos e novos’.Este, pelo menos, admite que os postes estão imóveis e impassíveis. Porque, no dia em que enxergar uma marcha de postes em favor de qualquer dos candidatos, é muito provável que esteja sendo traído por seus sentidos.
…mais bonito que o seu
Este colunista assiste à campanha com mais calma: não vê, em caso da vitória de qualquer candidato viável, o risco imediato de ruptura da ordem democrática. Os grandes meios de comunicação parecem compartilhar esse ponto de vista. Não há nenhum jornal, rádio ou TV de prestígio pregando a revolta contra o resultado das urnas, nem recorrendo às Forças Armadas para depor os eleitos, se não forem os de sua preferência, em nome da preservação do regime. E comunismo, sejamos sérios: se a URSS e a China não conseguiram impor o comunismo ao mundo, não será o coronel Hugo Chávez que irá consegui-lo.
Quem tiver o candidato derrotado, portanto, precisará apenas de paciência: daqui a alguns anos terá nova oportunidade de vitória. E, a propósito, poderá aproveitar esse tempo para participar da reorganização das forças que apóia, para que tenham mais possibilidades de vencer da próxima vez.
Ameaças aqui…
Não podemos esquecer, entretanto, que O Estado de S.Paulo está há mais de 400 dias sob censura, imposta por um juiz do Maranhão, para evitar que publique informações colhidas pela Polícia Federal sobre o império econômico da família Sarney. O pedido de censura foi feito (e retirado mais tarde) por Fernando Sarney, que comanda as empresas familiares. O Estadão não aceitou a retirada da ação: prefere que o mérito seja julgado. Mas tem gente sentada em cima.
As informações foram colhidas pela Operação Boi-Barrica (que mudou de nome para Operação Faktor). E o Estadão, que é vítima, também está perdendo uma oportunidade histórica: a de desafiar legalmente a Justiça que censura o jornal, mesmo sabendo que a Constituição proíbe a censura prévia. Bastaria fazer o que os jornais americanos fizeram na época dos ‘Papéis do Pentágono’: um jornal foi proibido de publicar, passou para outro, que prosseguiu na série; quando este foi proibido, enviou-a a um terceiro, e assim por diante. Os ‘Pentagon Papers’ saíram na íntegra, dentro da lei, sem esperar que a demora do Judiciário matasse a novidade.
…e lá fora
Na Argentina, continua a guerra do governo Kirchner, mulher e marido, contra o Clarín e o La Nación. A presidente Cristina Kirchner tentou tomar dos jornais oposicionistas, via intervenção, a Papel Prensa, que fornece três quartos do papel utilizado na imprensa do país. Por enquanto, está perdendo: a Justiça determinou o fim da intervenção. Mas Cristina Kirchner está determinada a sufocar quem quer que lhe faça oposição na imprensa.
Na Rússia, policiais armados invadiram a revista de oposição Novos Tempos e exigiram que lhes fossem entregues gravações das entrevistas ainda não publicadas. Parece ser represália à publicação, pela revista, de informações sobre a corrupção no governo russo.
Filha, não
Os meios de comunicação têm, corretamente, condenado a violação dos sigilos tanto de políticos ligados ao candidato José Serra quanto de sua filha Verônica. É um golpe baixo, sujo, que diz tudo sobre quem o aplica.
Mas falta investigar um pouco – e não apenas o papel do governo, mas também o dos meios de comunicação. É inacreditável, por exemplo, que uma casa de R$ 5 milhões, pertencente a um funcionário público cuja renda é notoriamente insuficiente para tê-la e mantê-la, tenha passado incólume por cinco anos, sem que nenhum fiscal, nenhum repórter, nenhuma autoridade a tenha notado. É de imaginar que um repórter, mesmo apressado e atarefado, de vez em quando arrisque um olhar pela janela ao lado. E não é de imaginar que jamais tenha tido a curiosidade de averiguar de quem era aquela casa. Agaciel Maia foi investigado muito mais tarde, em consequência de outras investigações que chegaram a ele.
A propósito, alguém acredita que nenhum jornalista soubesse que, no Senado, havia um belo ninho de amor, supersecreto, superseguro, muito bem equipado, para os amigos e amigas? Ou que não-funcionários do Senado, entre eles jornalistas, utilizavam liberalmente seu bem-equipado centro médico?
Parece incrível que só agora a imprensa tenha despertado para a venda aberta, por camelôs, no centro de São Paulo, de CDs com dados sigilosos de empresas e pessoas físicas (tudo baratinho, abaixo de R$ 20). Isso acontece faz tempo, já foi mencionado em diversas reportagens, mas nunca foi investigado pela reportagem. Quem fornece os CDs? De onde tira os dados? Quem compra os CDs? Que é que pretende fazer com as informações sigilosas?
Tudo vai longe. Mas cadê a investigação sobre a origem dos dólares na cueca, ou do dossiê dos aloprados? Por que a tolerância total com atividades como os desmanches ilegais? Sabe-se, por exemplo, que boa parte dos veículos roubados vai para desmanches clandestinos. Clandestinos, aliás, é uma palavra estranhíssima: o desmanche, por definição, ocupa uma grande área, faz muito barulho, só é clandestino por não ter documentos. E, naturalmente, porque há autoridades cujo olho de vidro enxerga muito melhor do que o natural.
História fantástica
A Justiça proibiu a entrada de menores numa exposição de flores e frutas realizada na Holambra, no interior de São Paulo. As crianças que foram à exposição tiveram de ficar dentro dos ônibus que as levaram, sem poder descer.
A imprensa deu a notícia, explicou que o juiz de Arthur Nogueira encontrou irregularidades nos documentos referentes às condições de segurança. OK – mas onde estará a insegurança numa exposição de flores, numa fazenda modelo? Ao que se saiba, não há urtigas expostas, nem cactos; as tulipas, principal produto da fazenda, exportadas para a Holanda, não oferecem qualquer tipo de risco. Talvez os espinhos das roseiras? Ou, dado o clima seco em todo o estado, pode ser que a grama esteja dura, podendo picar os pés de quem nela pisar descalço?
Dá para especular muito. Só não dá para encontrar a resposta. Nossos meios de comunicação aparentemente não estão preocupados com isso.
Como…
Capa da edição digital de um grande jornal, sob o título ‘Quadrilha faz arrastão em condomínio na Oscar Freire’ (uma das ruas mais chiques de São Paulo):
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‘Um grupo de pelo menos homens invadiu um prédio na rua Oscar Freire (…)’Quantos homens? Bem, aí é preciso folhear a edição digital. No terceiro caderno, bem longe da capa, a gente descobre que o grupo tinha oito integrantes.
…é…
De um grande portal noticioso:
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‘Detran do Rio leiloa 1.401 veículos apreendidos até sexta’Dúvida pertinente: o leilão vai até sexta ou os carros a leiloar foram apreendidos até sexta?
…mesmo?
De um grande portal noticioso:
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‘Vencer como mandante: o que ainda falta ao Corinthians’E dá-lhe a discutir o tema, sempre dizendo que o problema do time é vencer como mandante. Um pequeno equívoco: o Corinthians, como mandante, ganhou todas. O problema que enfrenta é como visitante.
Já o problema do portal é não saber a diferença entre mandante e visitante.
Mundo, mundo…
Esta é no Japão: pelo oitavo ano consecutivo, o canal de TV Paradise, especializado em programação adulta (como diria o excelente Homem-Legenda, pornográfica), faz evento beneficente pornô com renda para o combate à Aids. Por R$ 20,00, os fãs podem apalpar os seios de suas atrizes favoritas.
…vasto …
Bem americana: em Sumter, na Carolina do Sul, uma mulher foi presa por não limpar a casa. A queixa partiu dos vizinhos, e a polícia encontrou uma camada de lixo de 25 a 30 cm de altura.
Nem em determinados lugares de certos países é fácil encontrar sujeira igual.
…mundo
O título é supersugestivo:
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‘Carolina Ferraz fica sem roupas na Suíça’Mas não é bem assim: a atriz viajou para Genebra e suas roupas foram sabe-se lá para onde, enviadas pela empresa aérea. Carolina Ferraz ficou só com a roupa do corpo e da maleta de mão. E lá já começa a esfriar.
E eu com isso?
Vamos ao frufru, só frufru. A semana é mais curta, todos os meios de comunicação estão saturados de propaganda política, de análises eleitorais, de entrevistas com gente extremamente séria, ultraespecializada. Chatíssimo. Chega!
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‘Segunda-feira deixa as pessoas mais bonitas’**
‘Latino leva garrafadas do público e abandona palco’**
‘Indiana vira atração por amamentar bezerro’**
‘Xuxa beija seu cachorro na boca’**
‘Empresário gasta R$ 40 mil para fazer boneca inflável da ex’**
‘Atriz americana Julia Roberts aparece na praia com as axilas sem depilar’**
‘Aos 69 anos, Betty Faria é flagrada com as pernas de fora em praia carioca’**
‘Ellen Pompeo nega que tenha seis dedos no pé’**
‘Kylie Minogue sente dificuldades em vender seu apartamento’**
‘Viciado, veado bebe duas cervejas por dia na China’Há quem beba mais.
O grande título
Este colunista nunca conseguiu entender a teoria, mas sabe que Albert Einstein provou que o tempo é relativo. A imprensa acaba de concordar:
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‘Desemprego no Brasil tem menor julho desde 2002’Antigamente, julho tinha sempre 31 dias.
Pornô? Picante? Erótico? Nada disso: apenas uma, digamos, licença poética.
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‘Sheila Mello e Xuxa contam tudo sobre a lua-de-mel’Quase tudo. Ou quase nada.
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‘Chinês compra carro com moedas do cofrinho’O homem é fera. Aqui, para comprar um carro (tudo bem que é do bom, daqueles de luxo) o sujeito precisa guardar os dólares também na cueca.
E o grande título vem do esporte, do blog de Chico Lang. Trata-se de uma enfática declaração do centroavante do Santos, Neymar:
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‘Dou mesmo!!!’Mas não seja maldoso, caro colega. O jogador se referia a seu hábito de dar chapéus nos adversários quando o jogo está parado.
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados