Há um certo lamento no meio jornalístico quando se faz um retrospecto dos últimos 15 anos, comenta Erik Wemple em artigo no Washington Post [27/6/11]. Questiona-se, por exemplo, como teria sido se as organizações de mídia tivessem se unido para não colocar seu conteúdo na web ou se ao menos tivessem cobrado por ele desde o começo.
Estes argumentos foram abordados no livro The Deal from Hell: How Moguls and Wall Street Plundered Great American Newspapers (O acordo do inferno: como magnatas e Wall Street roubaram grandes jornais americanos, na tradução livre), de James O’Shea, ex-chefe de redação do Chicago Tribune e ex-editor-chefe do Los Angeles Times. “A internet e a tiragem em queda não mataram os jornais mais do que matérias longas ou jornalistas arrogantes. O que está matando o sistema de levar matérias editadas e confiáveis aos leitores todas as manhãs por menos do que custa uma xícara de café é o modo como as pessoas que administram a indústria jornalística reagiram a estas forças”, escreveu ele, que trabalhou em um dos grupos mais afetados, o Tribune Company, que publica o Chicago Tribune eoLos Angeles Times.
Fontes de receitas diversificadas
Ao contrário da crença popular, não é que os jornais não tentaram, diz O’Shea no livro. Ele conta que nove empresas jornalísticas – dentre elas New York Times, Washington Post, Tribune, Cox e Hearst – juntaram forças, na metade dos anos 90, para criar a rede New Century Network (NCN), a fim de vender seus produtos online a um bom preço para os leitores. O grupo durou apenas três anos, devido a filosofias diferentes e egos inflados demais. “Se todo este conteúdo de alta qualidade fosse pago, teríamos um cenário completamente diferente hoje”, acredita o autor.
“Se o NCN tivesse sido mais bem explorado, as receitas das empresas teriam se diversificado e a receita publicitária seria menos crucial. Assim, elas teriam criado um incentivo para cobrar pelo conteúdo. Mas, em vez disso, elas deram conteúdo de graça, esperando ter receita publicitária suficiente”, explica. O problema foi que, embora a informação fosse de qualidade, ela não era única.
No livro, O’Shea analisa os magnatas que administraram o Tribune até a sua venda para Sam Zell, bilionário do ramo imobiliário. Eles são descritos como seres humanos complexos que colocaram ganhos financeiros pessoais e lucros dos acionistas acima do processo de apuração de notícias. Ainda assim, O’Shea afirma que eles não são nada comparados a Zell, que não tem “nenhuma qualidade como ser humano e nem preocupação com o interesse público”. Com informações de Steve Weinberg [USA Today, 27/6/11].