A mistura de humor, mídia e eleição é uma faca de dois gumes. O jogo político deixa de estar apenas no ringue da razão e passa a ser objeto também das emoções. Isso significa dizer que a decisão (racional) corre o risco de se tornar mera adesão (emoção).
A diferença fundamental entre o homem e os animais está na capacidade de criar sentido e finalidade sem que as pessoas sejam reféns dos impulsos biológicos, aqueles oriundos da natureza. O entretenimento, porém, ata o nó que faz retornar o homem à sua condição de animal irracional. Vale lembrar que a palavra ‘entretenimento’ vem do latim entretere que significa literalmente ‘enganar o espírito’.
Entreter é um fenômeno irracional que apenas massageia as tensões humanas, transformando-as em algo que satisfaz sem necessariamente estar de acordo, ou não, com o elemento racional e intelectual. Os cachorros também se entretêm, assim como as mulas, os jumentos e as cabras.
Sobre a presença de piadas e humor na política, na maioria das vezes a ambiguidade do discurso passa a substituir a verdade e a falsidade. Não é possível dizer se um enunciado expressivo, que faz rir, é verdadeiro ou falso: ele ‘é’, apenas isso. Não faz sentido dizer que o riso é verdadeiro ou falso, ele é apenas irônico ou não.
Brincadeira e entretenimento
Veja só: dizer que o candidato tal é um ‘dinossauro no poder’ tanto pode significar que tal cidadão está há tempo no governo como pode ser uma referência maldosa à idade da pessoa (uma discriminação ao candidato idoso). Do mesmo modo, fazer referência a um ‘governo a passos de tartaruga’ tanto pode ser uma crítica acerca da lentidão das ações de tal governo, quanto pode significar pejorativamente uma dificuldade na fala da pessoa que aspira a determinado governo.
Por isso os prejuízos oriundos da presença de humoristas no discurso ou no processo eleitoral são maiores do que as vantagens. A própria charge é, na maioria das vezes, muito mais uma recorrência a aspectos físicos que necessariamente a algo no campo das ideias. Claro que há exceções.
O problema de quem ri por conta de algo engraçado está no fato de o riso predispor emocionalmente a pessoa a aceitar o que se diz sem a necessária preocupação acerca da verdade do que é dito.
A brincadeira e o entretenimento são maneiras de dizer as maiores verdades, mas também as maiores mentiras sem que o falante tenha necessariamente que responder por aquilo que insinua. E na política o estrago é enorme: na escolha, o e leitor mediano corre o risco de confundir o melhor com o mais engraçado. Caso o amigo leitor não concorde comigo, desculpe-me, este artigo é apenas uma brincadeira.
Mestre em Filosofia Política e professor de Filosofia na PUC-Goiás/Alfa/Unip