Quando falamos em cultura no Brasil deparamos com um cenário desregrado. A falta de critério na distribuição das verbas gerenciadas pelo governo tem levado o setor a uma inércia plena da produção artística. Em Santa Catarina, a reclamação de artistas faz eco às dos demais por todo o país. A ausência de diálogo entre os profissionais e as instituições que gerenciam a cultura torna as ações culturais ineficazes, à mercê dos anseios dos profissionais.
Um exemplo disso são os R$ 820 milhões vindos do Fundo Nacional de Cultura e destinados à criação do Fundo Setorial de Música, segundo o ministro da Cultura, Juca Ferreira, em dezembro do ano passado, durante a Feira Música Brasil, em Recife. Isso prova que verba existe e o problema é a forma de distribuição destes grandes valores.
Atualmente, a Federação Catarinense de Teatro, entidade criada em 1978 para incentivar a atividade de grupos teatrais, possui mais de 100 grupos atuando no interior do estado e 19 em Florianópolis. Mesmo assim, a escassez de atrações culturais no estado é fato. Santa Catarina é o 3º destino turístico do país, mas está longe de entrar no roteiro mundial de turismo, quem dirá no nacional.
Um pensamento estandardizado
Um dos principais problemas da cultura no estado é a falta de espaços e, também, a socialização. Hoje, em Santa Catarina, há 19 casas de espetáculos no interior, com destaque para o Teatro Carlos Gomes, em Blumenau, e o Teatro Adolpho Mello, em São José, que se encontra em manutenção. Florianópolis, a capital do estado, possui cinco teatros: o Ademir Rosa, no CIC, a Igrejinha da UFSC, Teatro Álvaro de Carvalho, Teatro Pedro Ivo e o Teatro da Ubro.
Existe hoje cultura local?
Outro problema é o cenário musical, locais conhecidos por ‘grandes eventos nacionais’, que contam com patrocínio da ordem dos milhões e catalisam o público. A população catarinense não tem o costume de frequentar centros culturais. Algo normal nos dias de hoje. É preferível ver o novo filme do Stallone e encher as mãos de manteiga de pipoca do que assistir a um espetáculo teatral e depois ir a um bar ou um café. Além da falta de espaços, os locais são cartelizados e dirigidos a poucos.
A inexistência de apoio para publicidade a eventos culturais para que esses possam fazer frente a outras formas de entretenimento é uma das razões para que cada vez menos se prestigiem produções catarinenses e locais por todo o país. Nesta realidade atual, não é de se surpreender que as salas de espetáculos estejam vazias. O artista regional torna-se refém de uma dura realidade e um antigo pensamento estandardizado socialmente sempre lhe vai estar na sola do calcanhar: ‘Artista no Brasil passa fome’.
Discussão sobre ‘censura’
É ano eleitoral e as ditas entidades culturais não estão na discussão e muito menos nos planos de governos dos nossos candidatos em nenhuma das instancias. E os sindicatos da categoria tão pouco estão fazendo o seu papel, que seria de cobrança sistemática e compromissos de políticas culturais mais inclusivas. Ou será que isso não é de interesse público?
Se discutiu tanto sobre a ‘censura’ mediante o tal artigo 45, inserido na Lei das Eleições (9.504 de 1997) que veda, a partir de 1º de julho de ano eleitoral, ‘trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação’. A Abert pediu e conseguiu que o Supremo declare que essa parte da legislação é inconstitucional.
‘O que é isso, companheiro?’
Em suma, os meios poderosos de mídia não querem perder repercussão com possíveis sátiras às eleições. Mera questão de Ibope e lucro. Disso a mídia fala e falou muito. Mas onde está, nos debates televisivos, a abordagem sobre temas de cultura? O que ocorre é que a indústria da ‘cultura de massa’, na verdade um vulgo entretenimento barato, está preocupada apenas em manter tudo como está.
No meio artístico catarinense já corre a boca miúda que a estrela Vera Fischer está por ganhar mais um edital no estado na casa de R$ 500 mil. Quem viver verá! Será a terceira vez que na história deste estado, enquanto a classe artística local fica à míngua, uma superprodução com a mesma figura recebe ‘apoio’ no estado. E artistas locais o que recebem? Sequer datas nos espaços gerenciados pelos meios públicos, salve exceções que têm se repetido nas pautas e datas dos centros culturais e casas da região por anos.
Não plagiando o filme, mas a pergunta vem a mente fácil: ‘O que é isso, companheiro?’ Não sei, mas passo a pensar que… Se disser, me processam, e se mal tenho o que comer… Não terei para o advogado. (Com a colaboração de Fabiano Peres e Murilo Formigoni Pereira)
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Ator, diretor teatral, cantor, escritor e jornalista, Florianópolis, SC