A imprensa brasileira está preocupada com os rumos da democracia. Em plena disputa eleitoral, quando a racionalidade costuma tirar férias e o bom jornalismo dá lugar à reprodução panfletária de factóides produzidos pelos marqueteiros de campanha, jornais e revistas decidem colocar em debate o regime democrático brasileiro.
Boa oportunidade para discutir também o papel da imprensa na construção desse patrimônio institucional.
A Folha de S.Paulo contribui, na edição de segunda-feira (13/9), com uma entrevista da cientista política Maria Celina D’Araújo, na qual a pesquisadora afirma que a principal deficiência do governo é a falta de controle e de transparência.
O entrevistador tentou levar a conversa para a distribuição de cargos públicos entre pessoas indicadas pelos partidos que compõem o governo, insinuando a necessidade de uma reforma política para coibir essa prática.
A entrevistada jogou um balde de água fria na pergunta, respondendo que isso não tem nada a ver com reforma política, é apenas a necessidade que cada governo tem de buscar uma base de aliados que o ajude a governar.
Manto sagrado
A ‘Democracia à brasileira’ é o tema do caderno especial do Estado de S.Paulo sobre ‘Desafios do novo presidente’, que se limita a discutir se o regime brasileiro é sólido o suficiente, assume o pressuposto de que a liberdade de informar está sob ameaça e questiona se os valores democráticos estariam em declínio pelo mundo afora.
Olhando para o próprio umbigo, o Estadão coloca em pauta seus próprios interesses, discutindo o fato de que está proibido de publicar conteúdos da operação policial que tem como suspeito o empresário Fernando Sarney, e apontando esse episódio como um mau sinal para a democracia brasileira.
Discutir a democracia e sugerir medidas de aperfeiçoamento do regime é parte do que se espera da imprensa. Mas em nenhum momento os jornais estendem o debate – propondo, por exemplo, alguma reflexão sobre a concentração da propriedade dos meios de comunicação.
Sob o manto sagrado da liberdade de informar continuam a ocultar-se os interesses dos grupos de poder que a própria imprensa representa.