Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

E o Google declara guerra

Desde a semana passada há uma nova rede social no ar. Chama-se Google+. Não é a primeira tentativa do Google de entrar na internet social. O Orkut, lançado há sete anos, foi o primeiro. Exemplos recentes incluem Google Wave e Google Buzz. Próximo de algum sucesso, só o Orkut. Mas sucesso local, no Brasil, não conta para uma empresa com ambições globais. Não desistem, e com razão: o Google precisa ser social. Não quer dizer que vai dar certo.

A internet nos apresenta um problema. É um repositório de informação em quantidade com níveis distintos de qualidade. Como encontrar o que precisamos? Na história da rede, essa pergunta foi respondida de duas formas. No primeiro momento, a resposta foi dada por pessoas. É o modelo Yahoo! da web gráfica que nascia, por volta de 1995. O Yahoo! original era um grande índice de sites selecionados por editores. A rede ficou muito grande; a seleção na mão, inviável. Aí vieram os vários sites de busca que selecionavam através de um algoritmo um programa, as melhores respostas. Nenhum era muito bom. Até que o Google apareceu, na virada do século.

É possível argumentar que o Google já não representa mais a melhor maneira de encontrar informação na rede. Por dois motivos. O primeiro é que as redes sociais mudaram nosso comportamento. Ficou fácil perguntar para os amigos no Twitter, no Facebook. E, dependendo da pergunta, os amigos têm respostas melhores do que o computador Oráculo, do Google. O segundo motivo é mais sutil: ao mudar nosso comportamento, as redes sociais modificaram como a internet funciona.

Truques novos

O truque do Google, quando surgiu, era esperto. Para medir a qualidade de uma página, contava quantos sites punham links para ela. Se um blog sobre vinhos recebia links de muitos sites sobre vinhos, sua nota era alta neste assunto. Quanto maior a web, quanto mais sites publicando links uns para os outros, melhor o Google. Numa rede em que os elos são páginas da web, a fórmula funciona. No mundo da internet social, a rede ganhou outros elos: pessoas. Quem mais indica que links valem seguir na internet, hoje, não são páginas. São pessoas nas redes sociais. A cada retuíte, a cada “curtir” no Facebook, lá está um voto para a qualidade de um site. E, na maioria dos casos, o Google têm tido dificuldades de levar estes votos em conta.

Se quiser continuar sendo a principal referência para respostas online nos próximos anos, o Google terá que se tornar mais social. A trupe que comanda a empresa sabe disso. Não é à toa que eles têm se dedicado a uma solução nos últimos anos. O fato de que o Facebook fecha suas páginas ao Google dificulta imensamente esse processo.

O Facebook não é simpático perante os usuários. Força a barra da privacidade sempre que pode. Mas é bom e fácil de usar. Apesar da imagem desgastada nos últimos tempos, o Google ainda causa boa impressão no público geral. Google+, a rede social, traz uns truques novos. A habilidade de dividir os amigos em círculos é útil. Assim, o usuário pode publicar as fotos de uma festa, dividir com os amigos da faculdade e esconder da turma do escritório ou da família. Do Twitter, pega outra boa ideia emprestada. No Google+, seguimos pessoas, não fazemos amizade. Assim, um conhecido pode seguir suas publicações sem que você precise retribuir a amizade.

Uma briga boa

Só que o Google+ não tem a maior qualidade do Facebook: é difícil de usar. Neste primeiro momento, apenas um grupo pequeno de pessoas que conseguiram convite entrou. Jornalistas ligados a tecnologia e engenheiros do Vale do Silício são maioria. Todos fazendo perguntas. Nem para estes é trivial. Uma rede social dá certo quando todos seus amigos se mudam para ela. Embora o Facebook seja muito melhor do que o Orkut, ele demorou a deslanchar no Brasil. Por isso: não era onde os amigos estavam. Virar o jogo será difícil.

Mas é uma briga boa. Não é a única na qual o Google se encontra. Nos celulares, briga com a Apple. Nos aplicativos, com a Microsoft. Na propaganda, com toda a mídia. São muitas frentes para um só general.

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[Pedro Doria é colunista de O Globo]