O jornal impresso está por um fio. E isso não é novidade. Luiz Beltrão, em 1960, já apresentava em seu livro Iniciação à filosofia do Jornalismo a decadência do jornal impresso em todo o mundo. Portanto, o seu fim não é algo que se relaciona apenas com o surgimento da internet, é algo anterior a essa explosão do mundo virtual. Mas, o jornal impresso é visto, por vezes, como uma vítima inocente e indefesa sendo engolida pelo universo digital.
A redação do Jornal do Brasil fechou as portas e isso causou indignação em muitos, tristeza em alguns, surpresa em poucos (aqueles que acompanham a evolução dos meios de comunicação) e alegria para outros muitos (aqueles que aderiram de forma apaixonada às novas tecnologias como fonte de informação). Para os seus dirigentes, essa foi apenas uma forma de sobreviver no novo cenário que se formou para os veículos de comunicação, como Beltrão também já previa, em seu livro profético, onde ele de forma otimista acreditava na capacidade do jornalista em adaptar as novas tecnologias à atividade jornalística, a fim de fazer o melhor uso possível das novas ferramentas, e não concordando com a visão auto-piedosa de que o homem seria substituído gradativamente pela máquina.
Não se pode afirmar que os jornais foram pegos de surpresa pela invasão da internet em todos os espaços. A cada ano, os números mostravam essa realidade. A publicidade investe menos nos jornais e passa a usar a internet, os leitores compram menos jornais, usam a internet como fonte de informação. Os jovens não leem, ou leem cada vez menos (numa visão mais otimista), os jornais impressos e desde o fim da década de 90 esses dados já estavam circulando e ao longo de uma década pouco foi feito para modificar tal situação. Essa indignação é revelada por Ricardo Noblat em seu livro A arte de fazer um jornal diário, onde ele apresenta um diagnóstico do jornal impresso nos últimos anos do século 20 e início do 21 e ressalta o desinteresse e até mesmo o descaso dos atores protagonistas do jornal impresso (donos de jornais e jornalistas) com esse meio secular e inestimável de informação.
Próximos passos para um recomeço
Noblat inventaria quais as medidas que os jornais deveriam tomar para revitalizar e tornar o jornal impresso novamente, o mais importante meio e veículo de comunicação. Uma das medidas é ‘humanizar o noticiário e abordar os temas pela óptica dos leitores’ (NOBLAT, Ricardo, pág. 17) e nesse sentido Luiz Beltrão também tem uma concepção pioneira por trabalhar o início dos estudos dos princípios da comunicação comunitária, tendo em vista ser o autor, o mentor da Folkcomunicação. Beltrão valoriza/supervaloriza o princípio do ‘bem comum’, tratado por várias vezes em sua obra. Aplicar à pratica do jornalismo e à sua rotina de produção nas redações, a política do ‘bem comum’, colocando os assuntos comunitários e os protagonistas da comunidade em pauta nos jornais impressos, é uma forma de dar ao jornal um ar de preocupação com o bem da comunidade e valorizar de forma séria e responsável os assuntos que permeiam o universo comunitário, e com isso, atrair os olhares de volta à leitura do jornal feito de tinta e papel.
Como previa Beltrão, a informatização dos meios de comunicação é algo inevitável e irreversível e cabe ao jornalista adaptar sua atividade a essa realidade, se quiser sobreviver. Mas não é impossível preservar o jornal impresso dentro desse universo infinito do mundo digital. Porém para isso, é preciso revolucionar o modo como se faz jornal diário. Trazer para a tinta e o papel a versatilidade, o dinamismo e a interatividade que se encontram no universo virtual e em seguida, e de forma mais fundamental, trabalhar de forma eficiente os princípios essenciais da comunicação comunitária. Afinal, uma das principais funções do jornalismo é servir à população, e como servi-la se não se conhece o seu universo e não se enxergam os acontecimentos pela sua óptica? Analisar e apresentar nas páginas dos jornais os assuntos respeitantes à realidade imediata dos moradores de determinada região, valorizando as atividades, os desejos e as conquistas dos protagonistas sociais é uma maneira de exercer o jornalismo de proximidade e o comunitário, jornalismos esses que aproximam a população dos jornais impressos. Beltrão ainda observa outra função imprescindível do jornalismo, a de explicar os fatos, trazer para o leitor todos os aspectos e as nuances que envolvem determinado tema (jornalismo interpretativo, tratado mais especificamente em outra obra de Beltrão), de forma clara, que situe o leitor no turbulento panorama dos acontecimentos diários, e no caso dos jornais impressos, que esses acontecimentos estejam ligados de forma estreita ao cotidiano da população mais próxima ao jornal. Aproveitando a profecia de Luiz Beltrão (o jornal impresso está fadado ao fim) e as dicas de Ricardo Noblat, é possível salvar o jornal impresso do fantástico mundo virtual que se ampliado e abraça tudo que vê pela frente.
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Estudante de Comunicação Social e Administração, Campina Grande, PB