Numa campanha política, a ausência de argumentos e o desespero eleitoral podem resultar na prática de ‘factoides’. Cunhada em 1973 por Norman Mailer, jornalista e escritor estadunidense premiado duas vezes com o Pulitzer, a palavra associa ‘fato’ com ‘oide’, sufixo que significa ‘assemelhar-se a uma forma’. A força do factoide não está no fato em si, mas na forma como é usado. O sensacionalismo de seu uso é determinante na influência causada na opinião pública. O bom jornalismo é o remédio para combater o factoide, dizia Mailer.
Vamos, então, aos fatos. A quebra de sigilo fiscal, fato ocorrido em setembro de 2009, é transformado agora pelo candidato Serra – como factoide – na principal bandeira de sua campanha. Atribui a responsabilidade, sem qualquer prova, à candidata Dilma e sua equipe de campanha, ferindo um sagrado princípio constitucional: a presunção de inocência. A quebra de sigilo ocorreu há um ano, e agora Serra, como um Dom Quixote cambaleante tentando se levantar, aponta sua lança contra o horizonte da realidade.
A Receita Federal abriu sindicância interna, descobrindo os acessos ilegais, e todas as medidas de apuração dos fatos e as devidas sanções estão sendo realizadas. Mas a agonia ‘demo-tucana’ precisa dar imagem dramática ao fato, transformando-o numa salvação (des)esperada. O senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, outro dia afirmou em entrevista na TV que ‘Dilma tem de dar uma satisfação. Ela é a candidata dessa turma que praticou o ato ilegal’. Vamos admitir a hipótese de que os praticantes da quebra de sigilo realmente apoiem Dilma e nos lembrarmos de que os militares que apoiaram a tortura durante a ditadura apoiam Serra. Qual a cumplicidade ou responsabilidade de Serra com a tortura? Respondo que, sinceramente, não existe qualquer relação.
Podemos, isto sim, responsabilizar o candidato demo-tucano, junto com alguns papagaios da mídia, pela tortura nos ouvidos do povo. Mas, para nossa tranquilidade, a mentira tem pernas curtas. Só teremos que providenciar para que ela logo tropece em seu próprio rabo.
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Secretário de Comunicação do PT de Santa Catarina