Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A epidemia era mesmo de mau jornalismo

Despacho da agência France Presse nos revela que ‘a infecção pela cepa pandêmica H1N1 da gripe, em 2009, apresentou um risco de complicações graves menor do que outros vírus recentes de gripe, segundo pesquisa realizada nos Estados Unidos’ e publicada nesta terça-feira (7/9).

Comparando os casos de contaminação pela gripe suína em 2009 e por vírus remanescentes de 2007 e 2008, o estudo constatou:

** as internações nos trinta dias que se seguiram à infecção por gripe atingiram 1,5% das crianças infectadas pela cepa pandêmica H1N1 de 2009, 3,7% das crianças que sofreram de gripe sazonal causada por outra cepa H1N1 e 3,1% das crianças que sofriam de gripe sazonal da cepa H3N2 de 2007 e 2008; e

** entre os adultos, os hospitalizados com estas três variedades foram, respectivamente, 4%, 2,3% e 4,5%.

Ou seja, cada uma das modalidades anteriores provocou mais que o dobro de hospitalizações de crianças; e, no caso dos adultos, a gripe suína causou menos internações do que a H3N2 de 2007/2008.

A conclusão a que os doutos chegaram com rigor científico foi a mesma publicada neste blogue… no calor dos acontecimentos.

‘Lobo solitário’

Guiado apenas por minha intuição e experiência jornalística, escrevi e postei em 26/07/2009 o artigo ‘Uma epidemia mais grave que a gripe suína: a de mau jornalismo‘, cujos primeiros parágrafos foram estes:

‘Uma epidemia muito pior que a gripe suína está grassando: a do alarmismo jornalístico.

A nova modalidade de influenza é uma moléstia que ainda não atingiu contingentes mais significativos da população brasileira, além de bem pouco letal.

Mas, trombeteando dia após dia a mórbida contagem de cadáveres, o noticiário causa, em leitores pouco afeitos a estatísticas, a impressão de que estejam diante de uma terrível ameaça.

Longe disto. Em comparação com as grandes pestes do passado, a gripe suína é refresco.

Vale lembrar, p. ex., que a gripe espanhola matou quase 2% da população brasileira, no final da década de 1920: aproximadamente 300 mil pessoas.

Pior ainda é se compararmos os dados da gripe suína com outras causas de mortandade. Aí o que fica evidenciado é a má fé da imprensa.

Vejam o caso da cidade de São Paulo: o número de óbitos ainda não chega a oito.

Pois bem, em maio eu alertei que a concentração criminosamente elevada de enxofre no diesel mata, somente em São Paulo, capital, 3 mil pessoas ao ano – ou seja, oito por dia!

Mas, como há interesses econômicos de grande monta envolvidos, o assunto é praticamente banido do noticiário.

Já o terrorismo midiático em torno da gripe suína tem sinal verde porque não afetou negócios importantes…’

Evidentemente, tais acertos não me recolocarão na grande imprensa, da qual estou banido por um macartismo que não ousa dizer o seu nome, mas é bem real e provavelmente até mais incontornável do que as listas negras da década de 1950.

Resta-me a satisfação de, a cada momento, estar provando aos jornalões e revistonas que, como lobo solitário e contando apenas com os recursos de qualquer internauta, consigo fazer jornalismo muito melhor que o deles.

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Jornalista e escritor