Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Pressionada, News Corp sacrifica jornal

Rupert Murdoch sacrificou o jornal News of the World em uma tentativa desesperada de cauterizar a crise em seu império global de mídia de US$ 46 bilhões, enquanto seu filho admitiu uma falha pessoal em lidar com o agravamento do escândalo relativo à invasão de caixas postais de telefones celulares envolvendo o tabloide britânico. James Murdoch, executivo adjunto de operações da News Corp., disse em um e-mail enviado aos funcionários que o News of the World – o título de 168 anos comprado por seu pai em 1969 – vai imprimir sua edição final no domingo. Foi o tabloide, especializado em escândalos sexuais e campanhas populistas, que levou o então barão australiano da mídia ao mundo.

Tanto o News of the World como a News International, braço de jornais da companhia no Reino Unido, pela qual James Murdoch é responsável desde o fim de 2007, “falharam em chegar ao fundo de repetidos erros que ocorreram de maneira inconsequente ou sem propósito legítimo”, disse o executivo. Reconhecendo que ele não tinha conhecimento de toda a extensão dos problemas no News of the World quando aprovou a decisão de fechar acordos extrajudiciais com algumas vítimas de invasão de caixas postais, James Murdoch disse: “Isso foi errado e motivo de um grave arrependimento.”

A decisão surpreendeu muitos britânicos, que se sentiram ultrajados com as mais recentes revelações acerca da invasão das caixas postais dos celulares, mas provavelmente não vai deter as investigações policiais, os inquéritos públicos e os processos judiciais contra os negócios da companhia no Reino Unido. Também não será capaz de colocar de volta nos trilhos a tentativa de US$ 12 bilhões da News Corp. para assumir o controle total da companhia de TV paga British Sky Brodcasting (BskyB).

“[O comportamento] foi desumano”

Ed Miliband, líder do Partido Trabalhista, disse que a posição de Rebekah Brooks, ex-editora do News of the World, como executiva-chefe da News International era “indefensável”. Ele pediu ao primeiro-ministro que ordene uma investigação judicial, cujos termos sejam explicados ao Parlamento inglês antes de seu recesso, em 19 de julho. Em entrevista à emissora de TV Sky News, James Murdoch defendeu Rebekah Brooks. “Com respeito a Rebekah, acredito que ela não tinha conhecimento [do caso], nem que tenha comandado as atividades”, afirmou. Antes do anúncio de ontem à tarde, esperava-se que Jeremy Hunt, ministro da Cultura britânico, anunciasse o adiamento até setembro de sua decisão sobre permitir ou não que a News Corp. compre a BSkyB. Hunt recebeu 100 mil sugestões sobre o acordo.

Uma semana de acusações de que representantes do News of the World acessaram mensagens do telefone celular de uma adolescente que foi assassinada, invadiram as mensagens de voz das famílias enlutadas de soldados, e autorizaram pagamentos a membros da polícia despertaram uma revolta contra o jornal. “Se as acusações recentes são verdadeiras, [o comportamento] foi desumano e não tem lugar em nossa companhia”, disse James Murdoch à equipe. Ele acrescentou que “o jornal” fez declarações ao Parlamento “sem ter a posse total dos fatos”.

“Para ser honesto, estou estupefato”

Tom Watson, o deputado trabalhista que conduziu a campanha contra o News of the World, disse: “Rupert Murdoch não fechou o News of the World. Foi a reação de famílias em todo o país ao ponto a que eles chegaram. [O jornal] estava para perder todos os seus leitores e não havia sobrado nenhum anunciante. Eles não tinham alternativa.”

Os anunciantes afastaram-se do jornal, cuja circulação caiu de mais de 6 milhões de cópias para 2,7 milhões de exemplares. Na sede do jornal, em Wapping, Londres, os funcionários reagiram, chocados, dizendo esperar que ele fosse substituído por uma versão dominical do The Sun, seu jornal-irmão que circula nos demais dias da semana. “Os empregos de muita gente que não fez nada de errado foram sacrificados pelo que aconteceu no passado. Há lágrimas na redação, posso garantir. Para ser honesto, eu estou estupefato” disse David Wooding, editor de política do News of the World.

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[Andrew Edgecliffe-Johnson, Ben Fenton e George Parker são do Financial Times, em Nova York e Londres]