Um escândalo crescente assustou os acionistas da News Corp., visto que seu tabloide dominical britânico News of the World está enfrentando novas denúncias de invasão de caixas de correio de voz de celulares, uma lista cada vez maior de anunciantes preocupados e novas investigações governamentais sobre suas táticas polêmicas de reportagem.
As ações da gigante de comunicações caíram 3,7%, para US$ 17,47, ontem na Nasdaq, em Nova York, e investidores expressaram temores de que o escândalo possa retardar ou até descarrilar o esforço da companhia para comprar os 60,9% que ainda não tem da British Sky Broadcasting (BskyB). Ao mesmo tempo, o presidente da News Corp., Rupert Murdoch, condenou as supostas táticas de reportagem que iniciaram a confusão – muito embora tenha registrado apoio a Rebekah Brooks, a principal executiva de jornal da empresa no Reino Unido, o que está sendo criticado. Brooks era editora do News of the World quando algumas das recentes alegações ocorreram.
A News International, divisão de jornais da americana News Corp. no Reino Unido, informou ter contratado o escritório de advogados Olswang para conduzir uma investigação e recomendar novas políticas e estruturas jurídicas a seus jornais. A News Corp. tem sido criticada e investigada há anos no Reino Unido acerca dos métodos de reportagem do tabloide, que envolveram o uso de terceiros para interceptar correios de voz de celebridades e políticos. O escândalo ganhou força esta semana, depois de acusações de que o jornal usou as mesmas táticas para acessar mensagens ligadas a garotas assassinadas e vítimas do ataque terrorista em Londres em 2005.
Polícia abre nova investigação
O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, aceitou, ontem, abrir um inquérito público sobre a interceptação de correios de voz pelo News of the World. Ele disse que procedimentos policiais – que não revelaram a maioria das alegações agora sob investigação – também deveriam ser investigados, mas só depois que a investigação do News of the World terminar. Cameron também pediu um exame mais amplo de comportamentos antiéticos por parte de outros veículos de comunicação britânicos. A situação representa um momento delicado para Cameron, um amigo de Brooks que foi ao casamento dela em 2009. Cameron empregou por muito tempo Andy Coulson – sucessor de Brooks como editor do News of the World – mesmo depois de ele ter se demitido do jornal no início do escândalo de invasão de correios de voz. Coulson negou ter conhecimento das invasões, mas disse que se demitiu porque elas aconteceram sob sua gestão.
Durante uma sessão tumultuada do Parlamento, ontem (6/7), Ed Miliband, líder do Partido Trabalhista, de oposição, acusou Cameron de ter cometido “um erro catastrófico de julgamento ao trazer Andy Coulson” para seu governo. Em separado, a Polícia Metropolitana de Londres abriu uma nova investigação sobre pagamentos supostamente impróprios que a News International teria feito à polícia. Isso além da investigação policial em andamento sobre a invasão dos correios de voz, que começou anos atrás mas reacendeu em janeiro quando surgiram novas informações.
A News Corp é proprietária do Wall Street Journal.
“Uma desgraça total”
Numa sessão de emergência do Parlamento sobre o assunto, ontem, vários políticos pediram que Brooks se demita. Ela era a principal editora do News of the World em 2002, quando o jornal supostamente invadiu o correio de voz de uma menina de 13 anos, Mily Dowler, que havia sido sequestrada e foi depois foi encontrada morta. Brooks já disse ser “inconcebível” que ela soubesse da ocorrência.
O número de anunciantes do News of the World que está se distanciando do tabloide começou a se multiplicar na quarta-feira (6/7), quando a montadora Vauxhall, da General Motors, o supermercado Co-Operative Group Limited, a Mitsubishi Motors, a Ford Motor e o Lloyds Banking Group suspenderam sua publicidade no jornal. As companhias afirmaram que suas decisões afetaram apenas o News of the World. “Estamos dialogando com anunciantes quanto aos passos que temos tomado e essas conversações vão continuar”, informou a News International, por meio de um comunicado.
Parentes de várias pessoas mortas nos ataques terroristas de 2005 em Londres disseram ontem que foram informadas pela polícia de que também foram alvo da invasão de correios de voz. Entre eles estão os pais de Ciaran Cassidy, que foi morto por uma bomba na estação de metrô King Cross, segundo sua irmã, Lisa Cassidy. Ela disse que a polícia informou à família que os detalhes foram encontrados em papéis confiscados como parte da investigação de invasão de telefones. “É uma desgraça total”, disse ela (colaboraram Russell Adams, Alistair MacDonald, Kathy Gordon e Simon Zekaria).
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[Paul Sonne, Cassell Bryan-Low e Dana Cimilluca são do Wall Street Journal, em Londres]