Quando David Cameron tornou-se primeiro-ministro da Grã-Bretanha em 2010, uma das primeiras pessoas a visitá-lo no número 10 da Downing Street – menos de 24 horas após a vitória dele e chegando pela porta dos fundos – foi Rupert Murdoch.
Com o império midiático de Murdoch submetido a um duro golpe na Grã-Bretanha 14 meses depois, Cameron talvez ache que o relacionamento próximo com o magnata da mídia, que incluiu uma série de contatos sociais com membros da família Murdoch e os principais executivos a serviço dele, tenha sido um caro exagero, preocupação intensificada pela detenção de Andy Coulson, ex-editor do News of the World e, até sua renúncia em janeiro deste ano, diretor de mídia de Cameron em Downing Street.
Cameron contratou Coulson em 2007 depois de escândalos que abalaram o jornal. E o defendeu repetidas vezes apesar dos sinais cada vez mais claros de que, diferentemente do que Coulson tinha admitido, o editor tinha consciência da prática do jornal de instalar escutas telefônicas.
Desde que começou a erguer seu império midiático na Grã-Bretanha, 40 anos atrás, Murdoch, nascido na Austrália, tem sido um personagem de imensa importância política. O magnata usou a própria influência para tentar limitar o poder dos organismos de regulação da mídia e expandir seu controle sobre a principal rede de TV paga do país, a BSkyB, jogada cuja aprovação o governo britânico ainda avalia.
De acordo com muitos analistas políticos, a decisão dele de fazer com que seu jornal deixasse de apoiar os trabalhistas no ano passado, depois de ajudá-los nas três últimas eleições, desempenhou um papel decisivo no retorno dos conservadores ao poder.
Da mesma maneira, quando ele abandonou os conservadores e passou a apoiar os trabalhistas em 1997, muitos dizem que ele ajudara a criar a onda que manteve Blair no cargo no decorrer da década seguinte.
Prisioneiros políticos
Tamanha influência foi prejudicada pelo escândalo das escutas telefônicas que emergiu em torno do News of the World, o tabloide altamente lucrativo e gastador que contava com a maior tiragem entre os jornais dominicais britânicos, chegando este ano aos 2,7 milhões de exemplares.
Apesar de todas as dúvidas em relação a como ficaria Cameron após o escândalo, o alvo principal das críticas tem sido Murdoch. Simon Hoggart, colunista do Guardian, descreveu o alívio entre os políticos britânicos ao verem o império de Murdoch sofrendo importantes derrotas.
Durante anos, os parlamentares “temeram muito a imprensa de Murdoch – tiveram medo de perder apoio, e até, em certos casos, de ter suas vidas particulares devassadas”, escreveu ele. “Mas isso é passado agora. A News Corp. ultrapassou os limites e os parlamentares se sentem agora como prisioneiros políticos depois que o tirano foi condenado à morte por um tribunal popular: livres.”
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[John F. Burns e Jo Becker são jornalistas do New York Times]