Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Eleições + educação = promessas



‘Vou cuidar da educação! Tá, vai fazer isso de que maneira?’ (Rita Lee, sobre as promessas dos políticos)


Em entrevista à revista IstoÉ (nº 2131), Rita Lee tocou a nota certa. Não basta um político afirmar que se preocupa com a educação. A concretização sobre o modus faciendi nos permite avaliar até onde as preocupações são reais e as promessas, factíveis.


Uma revista curitibana dedicada à profissão docente, Profissão mestre (entre cujos colunistas encontram-se Cristovam Buarque, Hamilton Werneck e Celso Antunes), publicou em seu número de setembro opiniões e propostas dos presidenciáveis em torno de cinco questões: analfabetismo, creches, ensino médio, qualidade do ensino e carreira docente.


A revista não recebeu as respostas do candidato José Serra aos cinco desafios. A nota da redação justifica o ocorrido: ‘




Até o fechamento desta edição (11/08/2010), a assessoria de imprensa do candidato José Serra não havia enviado as respostas às perguntas encaminhadas por e-mail no dia 16/07/2010. Apesar da insistência da redação e de muitos contatos feitos por telefone e e-mail, os responsáveis pela comunicação com a imprensa não conseguiram atender à nossa solicitação por falta de tempo do candidato para aprovar as respostas, já elaboradas por sua equipe, segundo informações da assessoria de imprensa.’


Este fato demonstra, em ponto pequeno, mas com eloquência, a tônica da campanha do candidato do PSDB: protelações, atrasos, falta de foco, centralização de decisões no ex-governador e… embaraços para tratar o tema educação.


As respostas de Dilma Rousseff, Marina Silva e Plínio Arruda Sampaio refletem igualmente, com relação ao campo educacional, o modo como cada candidato(a) tem feito sua campanha e o que tem proposto em termos gerais.


Marina complexa, Plínio curto e grosso


O discurso de Marina ganhou sofisticação. Há o desejo de mostrar ao eleitor que a candidata não restringe seus interesses à questão ambiental e que domina vocabulário e sintaxe complexos (influência dos mentores Augusto Cury e Eduardo Giannetti?). O texto não supera, no entanto, as peças programáticas que pairam eternamente sobre a realidade da educação. Referindo-se à qualidade do ensino, Marina diz, por exemplo:




‘[…] diversas políticas devem ser implementadas de acordo com as reais necessidades das redes de ensino, pois a autonomia das escolas é fundamental. Uma dessas políticas expressas nas diretrizes diz respeito à implantação de uma educação integral, considerando-se as diferentes dimensões da educação: afetiva, cognitiva e física, assim como a articulação entre os saberes escolares e os saberes relativos às artes e à cultura popular de modo geral.’


Num estilo sem papas na língua, Plínio Arruda dispensa o blablablá. Para resolver os problemas educacionais, as ideias são fundamentais, mas a solução tem uma clara dimensão materialista. Os ideais de Paulo Freire sairão do papel e das palestras quando houver investimento generoso. Ou mais claramente ainda: se houver mais dinheiro para a educação. Sobre a carreira do professor, diz o candidato do PSOL:




‘Em São Paulo, o Serra criou o ‘bicho’ para os professores, como tem no futebol. Se a classe do professor for bem em uma competição, ele ganha um aumento de R$ 200,00. Nossa política é diametralmente oposta. Educação séria depende de professor valorizado, como dizia o Paulo Freire. Defendemos plano de carreira, piso salarial digno e abertura de novos concursos.’


Dilma, leia-se Haddad


Em suas respostas, Dilma se apoia nas realizações do governo Lula, leia-se gestão Fernando Haddad, ministro da Educação desde 2005. E garante, como em outros temas, a continuidade e o aprofundamento. Quanto à carreira docente, afirma, na primeira pessoa do plural:




‘A valorização do professor é a base de tudo. Quando o presidente Lula assumiu o governo, o professor não tinha um piso salarial. Nós criamos um piso nacional para o magistério, por lei. Ainda não alcançamos o ideal, mas vamos avançar porque não se faz ensino de qualidade sem professor bem pago, valorizado e respeitado.’


Uma dúvida fica no ar, porém. Saber se esta pasta, que foi a mais bem avaliada nos últimos anos, segundo o Datafolha, continuará contando com Haddad, caso o PT vença as eleições. Evidentemente que ainda é muito cedo para definir ministérios, mas será difícil encontrar alguém que o substitua à altura.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br