Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Corrupção, fisiologismo e alienação

Os jornais brasileiros de circulação nacional seguem como em uma novela, despachando um capítulo por dia, o processo de mudanças no Ministério dos Transportes, onde uma série de reportagens evidencia a existência de um esquema de corrupção. É longo o caminho até o esclarecimento de todos os fatos, e paralelamente a imprensa registra as ações do Executivo no sentido de sanear o setor.

O noticiário dá conta de que o Partido da República havia transformado o Ministério dos Transportes e seus órgãos operacionais em uma agência de negócios. Dia sim, dia não, os jornais anunciam uma ruptura na base de apoio ao governo.

Mas são poucos os riscos de uma dissenção radical. Para alguns dos partidos nascidos depois do processo de redemocratização, a política só faz sentido como situação, seja no poder municipal, nos estados ou em Brasília. Na falta de um estofo ideológico ou de um tema central que identifique sua representatividade, tais legendas só sobrevivem num ambiente de negociação permanente de cargos e benefícios para seus integrantes em troca de apoio aos projetos de quem estiver no poder.

Mais justo, menos corrupto

Para desmascarar o fisiologismo estrutural de um partido, basta observar como se agarra ao governo, seja quem for o governante. Até mesmo partidos de encomenda são criados, como grifes da moda – caso do PSD imaginado pelo prefeito de São Paulo e seus sócios.

A imprensa brasileira faz a crônica desse bazar todos os dias, e as demandas dos políticos lembram os pregões dos vendedores ambulantes. Mas é raro um trabalho jornalístico que analise o sistema partidário como um todo. Mais difícil ainda é encontrar um texto que mergulhe na indiferença do povo brasileiro ao que ocorre nos salões do poder, tanto em suas cidades e estados como na capital federal. A aparente alienação pode revelar um perigoso divórcio entre as instituições políticas e a sociedade.

Qual seria, então o sentido da democracia brasileira?

O espanhol El País mergulhou nesse tema, semana passada com um artigo cujo título era uma pergunta: “Por que os brasileiros não reagem ante a corrupção de seus políticos?”.

O jornal afirma que a presidente Dilma Rousseff tem se empenhado em higienizar seu governo, “e o preço que terá de pagar será elevado”. E questiona por que os brasileiros, que nos anos 1980 e 90 fizeram manifestações em massa para pedir a volta das eleições diretas e o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, agora só saem às ruas para a Marcha de Jesus, a Parada Gay e a defesa da liberalização da maconha.

A análise termina expressando certo espanto pelo fato de que, num mundo globalizado, onde instantaneamente se sabe o que acontece no planeta, começando pelos movimentos de protestos de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada, os brasileiros não lutem para que o Brasil, além de mais rico, seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.

O texto, assinado pelo jornalista Juan Arias, correspondente no Rio de Janeiro, termina com a seguinte frase:

“Esse país que os honestos sonham deixar como herança para seus filhos e que – também é certo – é ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que tem, seria um lugar ainda melhor se surgisse um movimento de indignados capaz de limpá-lo das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder”.

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Observatório da Imprensa na TV

O Observatório da Imprensa desta terça-feira (12/7) vai debater um dos assuntos mais quentes da mídia internacional dos últimos tempos: a Inglaterra, reino dos tabloides, tenta colocar algum controle sobre a imprensa sensacionalista.

Após a série de escândalos envolvendo grampos ilegais, o filho do magnata da imprensa Rupert Murdoch anunciou o fechamento do tablóide News of the World. A última edição do folhetim semanal publicado há 168 anos foi às bancas no domingo (10/7).

O News of the World é o jornal britânico mais vendido do país. As técnicas obscuras para obter informações passaram a ser ainda mais contestadas quando o jornal invadiu a caixa de correio de voz de uma adolescente desaparecida, que depois foi encontrada morta. A acusação é de que o jornal teria, possivelmente, interferido na investigação policial do caso.

Escutas de telefones de pais de soldados mortos no Afeganistão ou de famílias de vítimas dos ataques terroristas ocorridos em Londres em 2005 ajudaram a agravar a situação.

O Observatório da Imprensa irá debater temas como táticas ilícitas usadas por esse tipo de jornalismo, e a queda do nível da imprensa provocado pela chamada imprensa marrom. Com o questionamento sobre as deficiências da Press Complaints Comission, órgão independente que encaminha as queixas da sociedade contra a imprensa britânica, também discutiremos a questão da autorregulamentação.

O Observatório da Imprensa vai ao ar nesta terça-feira às 22h, pela TV Brasil, ao vivo em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 116 da Sky.