Depois de verem a imprensa acuada pela combinação da violência do narcotráfico e da polícia contra jornalistas, os mexicanos descobriram uma nova fórmula para buscar notícias sobre a guerra entre os cartéis da droga e o governo, um conflito que já matou 66 jornalistas e 14 mil civis e militares na última década.
Até a Agência Norte-Americana de Combate às Drogas (DEA, na sigla em inglês) passou a acompanhar o drama mexicano por meio dos blogs criados por quase 30 jornalistas e cidadãos comuns que passaram a ser a linha de frente numa narcoguerra que a grande imprensa trata com luvas de pelica por temor de represálias.
O fenômeno dos narcoblogs, como o popularissimo Blog del Narco, que tem cerca de 50 mil acessos diários, provocou uma mudança radical nos hábitos informativos dos mexicanos. Eles agora buscam mais informações nos blogs em vez da imprensa convencional.
Isto é o resultado de uma dupla pressão sobre as redações. Se por um lado o crime organizado transformou os jornalistas em alvos preferenciais, por outro a polícia também passou a usar a intimidação sobre repórteres e editores como forma para impedir denúncias de corrupção nos organismos de segurança pública.
Esta dupla armadilha montada sobre a imprensa é claramente visível no México por conta da radicalização da narcoguerra, mas ela acontece em quase todos os países latino-americanos, inclusive no Brasil.
Fotos chocantes
É cada dia mais difícil cobrir jornalisticamente os crimes envolvendo narcotráfico porque a intimidação de repórteres e editores está cada dia menos sutil. E não é apenas por conta do crime organizado. Também a polícia pressiona jornalistas sempre que aparecem denúncias de envolvimento de agentes com os traficantes.
Esta situação está empurrando um número cada vez maior de repórteres para a atividade autônoma, contando inclusive com o estímulo das empresas jornalísticas que já não conseguem, como no caso mexicano, dar proteção especial aos seus profissionais.
O Programa de Liberdade de Expressão, do Centro de Jornalismo e Ética Publica (CEPET) do México, admitiu em março deste ano que a espiral de violência no México levou os principais jornais e emissoras de radio e TV do país a uma autocensura em matéria de cobertura do narcotráfico para “evitar mais mortes e mais prejuízos financeiros”.
É esta autocensura que acabou levando mais leitores para os blogs entre os quais se destacam também o Narcotrafico en Mexico e o Narcoguerra, conhecido pela crueza das fotos que publica.
Guerrilha informativa
O recuo da imprensa mexicana diante da agressividade do narcotráfico é um sintoma do que o sociólogo espanhol Manuel Castells chamou de “globalização da violência”, ou seja, o fenômeno das máfias da droga já não é mais o resultado da falência das políticas de segurança pública deste ou daquele país, mas um processo em escala planetária resultante da impotência das forças policiais em controlar o crescimento do crime organizado como fator político.
O caso mexicano pode estar balizando uma situação em que a imprensa terá de enfrentar opções nada agradáveis. De nada adiantará recuar diante do crescimento das máfias da droga, mas, por outro lado, enfrentá-las significa pagar um preço ainda mais alto.
É aí que entram os blogs, que podem se adaptar mais rapidamente a um ambiente informativo marcado pela intimidação e pela violência. No caso mexicano, também aconteceram ameaças contra blogueiros, conforme revelou o CEPET, mas quando um blog sai da rede, sempre surgem vários outros para substituí-lo. Isso acaba dando lugar a uma espécie de guerrilha informativa contra os narcos.
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[Carlos Castilho é jornalista]