Os meios de comunicação formam o gosto do público ou são as preferências de leitores e de espectadores que determinam seu conteúdo? A resposta mais acertada aponta para uma influência mútua, e circunstâncias históricas pesam no formato final desse intercâmbio.
Rupert Murdoch pode muito bem alegar que o News of the World, fechado pela revelação de escutas clandestinas, apenas entregava o que o leitor queria, como mostra a vendagem alta do tabloide até a derradeira edição.
No entanto seu conglomerado midiático foi resultado não só do modelo noticioso baseado no sensacionalismo, mas também da confluência de interesses políticos.
Murdoch ascendeu no Reino Unido e nos EUA a partir do final dos anos 1970, quando o período de crescimento contínuo e otimismo que se seguiu à Segunda Guerra deu lugar à incerteza econômica.
Foi beneficiado por decisões de governos relaxando regras que impediam a formação de monopólios, num processo que começou antes que a internet dificultasse a caracterização do que seja a concentração e a diversidade da informação.
Sob Margaret Thatcher, nos anos 1980, já dono do World e do Sun, obteve aval para comprar o Times e o Sunday Times. Com Bill Clinton, nos anos 1990, e George W. Bush, neste século, ampliou sua rede de emissoras e jornais americanos.
Murdoch já apoiou ou atacou políticos de diferentes partidos, mas sua mensagem não varia. Ela deposita a raiz da insegurança do cidadão nas figuras do estrangeiro, do pedófilo, do corrupto contumaz ou do adúltero.
O mundo fica tão simples que permite que o New York Post, seu tabloide nova-iorquino, um dia chame Dominique Strauss-Kahn de “francês pervertido” e, no outro, de “prostituta” a imigrante que denunciou o ex-diretor do FMI.