Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rediscutindo a liberdade de imprensa

O noticiário internacional destaca a decisão do magnata australiano de imprensa Rupert Murdoch de abandonar seu projeto de assumir o controle da maior rede de TV por satélite da Grã Bretanha.

Envolvido no escândalo que levou ao fechamento de um de seus jornais, o News of the World, Murdoch decidiu sair de cena por algum tempo, e seus executivos consideram que este não é o melhor momento para aumentar sua participação na provedora de TV paga British Sky Broadcast, conforme vinha sendo anunciado.

Murdoch vai enfrentar investigações também nos Estados Unidos, onde sua empresa News Corp é acusada de haver tentado grampear as comunicações de vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001.

O jornal panfletário de Murdoch na Inglaterra vinha sendo acusado há muito tempo de espionar ilegalmente celebridades, inclusive com o uso de escuta telefônica e invasão de comunicações privadas.

Nas últimas semanas, porém, revelou-se que jornalistas do tablóide News of the World subornaram policiais e invadiram a privacidade de pessoas comuns, vítimas de crimes, para obter informações exclusivas.

Uma das vítimas, uma menina que havia sido sequestrada, teve seus telefonemas grampeados e o jornal seguiu publicando trechos de suas conversas gravadas, mesmo depois que ela foi assassinada, produzindo falsas esperanças em sua família.

Foi o limite para a liberdade absoluta de imprensa.

Ponto de virada

Artigo do New York Times, reproduzido nesta quinta-feira, 14, pelo Estadão, afirma que o caso provocado pelo estilo jornalístico de Murdoch pode marcar um ponto de virada nas relações entre imprensa e sociedade.

A revolta do público com os abusos da imprensa sensacionalista tem sido tão grande que pode afetar as regras de funcionamento das empresas jornalísticas na Europa.

O artigo lembra que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi obrigado a mandar abrir inquéritos e declarou que a tradição de autorregulação da imprensa britânica fracassou.

A imprensa tradicional da Inglaterra começa a reagir às ameaças de mudança nas regras, mas o debate público escancara as dificuldades de manter indefinidamente sem limites a liberdade de expressão através da imprensa e ao mesmo tempo assegurar o direito à privacidade.

Esse debate deve ser a melhor contribuição que, por vias tortas, o aventureiro australiano terá dado à imprensa de todo o mundo.