Aviso: esta coluna é uma defesa de Rupert Murdoch. Se fizermos as contas, veremos que ele tem sido bom para os jornais durante as últimas várias décadas, mantendo-os vivos, vigorosos, barulhentos e relevantes. Sem ele, a indústria jornalística britânica poderia ter desaparecido completamente.
Sua defesa é motivada em parte por ter visto todo mundo em cima do escândalo britânico dos grampos, como se tais abusos estivessem confinados à News International (veremos) e como se grupos significantes do establishment britânico não fossem cúmplices. Também é motivada por ter convivido um pouco com Murdoch 21 anos atrás, quando escrevia um perfil para a revista do New York Times, e me impressionado.
Mas apresento algumas ressalvas. Primeiro, os grampos são, claro, indefensáveis, além de ilegais. Segundo, a Fox News, a rede de TV americana iniciada por Murdoch, com sua demagogia estridente de direita mascarada como jornalismo, contribuiu significativamente para a polarização da política americana, a erosão do debate razoável, o descrédito da própria razão e a subsequente paralisia de Washington. Terceiro, que discordo com as visões de Murdoch numa gama de assuntos – da mudança climática ao Oriente Médio – onde sua influência tem sido um desfavor. Então, por que eu ainda admiro o homem? O primeiro motivo é seu evidente desdém por elites, pelo establishment confortável, por cartéis, pelo que ele chamou de “sotaques britânicos estrangulados” – na verdade, por qualquer coisa oposta ao esforço e ao empenho de coragem. Seu amor pelo jornalismo sem restrições é um dos motivos pelo qual a imprensa britânica é a mais agressiva no mundo todo. Isso é bom para sociedades livres.
A segunda coisa que admiro é a sua determinação visionária, sem medo de riscos, que o colocou à frente da concorrência, conforme os negócios da mídia foram se transformando através da globalização e da digitalização. A habilidade de enxergar à frente lhe fez começar com dois jornais modestos herdados de seu pai em Adelaide e se tornar chefe de uma companhia de renda anual de cerca de US$ 33 bilhões.
Sim, houve erros – o MySpace, site de mídia social vendido há pouco por uma fração de seu valor de compra, foi um. Mas eu iria pela média de Murdoch. Ele apostou muito na TV por satélite, em oportunidades de mídia globais nos esportes e na fusão entre televisão, publicidade, entretenimento, jornalismo e Internet. A British Sky Broadcasting e a Fox representam grandes negócios criados a partir do nada contra probabilidades significativas.
Uma frase favorita do Murdoch é: “Nós não negociamos quota de mercado. Nós criamos o mercado.”
O The Times, que descobri ser boa leitura desde que me mudei para Londres no último verão, me impressionou com seu investimento contínuo em cobertura internacional, sua decisão audaciosa de cobrar pela leitura on-line (sim, as pessoas deveriam pagar pelo trabalho de jornalistas), e com o modo como o jornal joga limpo sob o comando do editor James Harding. O Telegraph à direita, e o Guardian à esquerda jogam menos limpo.
A British Sky Broadcasting, enfaticamente, não é a Fox. É um canal de variedades com alguns noticiários sérios. No geral, a cena da mídia britânica sem Murdoch teria ficado bem empobrecida. Sua ruptura com os sindicatos em Wapping em 1986 foi decisiva para a vitalidade do jornalismo. Ele pegou o tabloide The Times quando todos disseram que ele era louco. Ele tinha razão. Ele ama um furo, ama um descarte, e tanto o Wall Street Journal e o The Times demonstram terem jornalistas sérios que podem sobreviver sob ele.
Mas Murdoch está em apuros agora. Um negócio importante para toda a British Sky Broadcasting depende de sua habilidade de convencer as autoridades britânicas de que a gerência da News Corp tem, de fato, boa reputação. Políticos que antes adulavam agora fulminam. O primeiro ministro David Cameron está constrangido. Tanto Murdoch e seu bem-entendido filho James Murdoch (de visão mais centrista que seu pai) estão se debatendo.
Minha aposta é que eles prevalecerão. Quando perguntei a Murdoch qual era o segredo da TV, ele me disse “Enterre os seus erros”. Esse homem é uma força da natureza, e suas incansáveis inovações tem sido, em equilíbrio com as ressalvas, boas para a mídia e para um mundo mais aberto.