Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os números do jornalismo do futuro

Números. Todos adoram. Todos odeiam. Números são altamente manipuláveis, mas são apenas números. Mesmo assim, números fazem você acreditar em quase tudo. Não importa se algo é parcialmente falso, se te apresentarem números, você, ao menos, irá verificar uma possível concordância com aquele determinado ocorrido que foi exposto.

E quando os números tratam de nós mesmos, sobre o que nós produzimos, devemos confiar? Não estamos falando do que produzimos em matéria ou espaço físico, mas do que produzimos em conhecimento. Sabemos que conhecimento é algo não palpável, não tangível. Você pode escrever um livro sobre suas memórias, mas jamais poderá medir a quantidade de conhecimento que seu cérebro já processou.

Porém, e se apresentássemos números você mudaria sua visão sobre o conhecimento humano? E sobre o jornalismo? Qual é o cenário – e os números – que a imprensa irá enfrentar no futuro? Impossível traçar algo extremamente preciso, mas podemos expor fatos, ou melhor, números, que demonstram claramente qual será o principal concorrente do jornalismo em um futuro muito próximo: nós mesmos.

Por minuto, são postados em média 24 horas de vídeo no YouTube. Se contarmos que cada vídeo tem por volta de uns 10 minutos, imaginem quantos milhares de usuários estão acessando o serviço ao mesmo tempo. O YouTube se tornou maior do que a BBC ou a CNN. Há mais conteúdo produzido e publicado na internet do que nos últimos 30 anos de produção das maiores redes americanas de televisão juntas.

A essência persistirá

O Flickr, site para publicação de imagens e fotos do Yahoo!, já se tornou o maior depósito de fotos da história humana. Impressionante, não?

Se tentarmos imprimir em papel todo o conhecimento que circula na internet, contanto como se fosse possível imprimir, além dos artigos e livros, fotos, vídeos e sons, a quantidade impressa atingiria o volume de quatro planetas Terra.

Sabemos, também, que apenas uma edição de domingo do jornal americano The New York Times contém mais informações do que um homem que viveu durante o Iluminismo conseguiu acumular durante toda a vida. A própria Wikipédia está se tornando a maior enciclopédia do mundo, quebrando gigantes como a Enciclopédia Britânica. É o conhecimento aberto, sem fronteiras, produzido para e pelos usuários.

Todos esses dados são, no mínimo, fascinantes. O maior dos gigantes, o site de buscas Google, tem como lema ‘digitalizar todo o conhecimento da humanidade’. E após analisar esses números isso não parece ser tão impossível.

Entretanto, uma questão fica sem resposta: se há disponível na internet praticamente todo o conhecimento humano, como o jornalismo deve reagir perante esse novo mundo, esse novo modelo de mercado emergente e sem limites de crescimento? Como atuar em um cenário onde todos publicam textos, áudios (de músicas até entrevistas acadêmicas), vídeos ou qualquer outro tipo de arquivo que se queria compartilhar é um assunto a ser debatido, principalmente, no meio acadêmico.

O jornalismo que irá emergir no futuro deve ter em mente que jamais conseguirá alcançar a linha de produção existente entre os usuários. Será necessário, entretanto, complementá-la, analisá-la e contextualizá-la, apresentando argumentação e um discernimento não existentes na maior parte do que é postado na web. Os números do jornalismo do futuro pertencem a uma regra básica: não tente vencer a web 2.0 impondo quantidade, transforme-a em uma aliada apresentando qualidade. O jornalismo do futuro será o mesmo do passado. Mudam os atores, os cenários e os enredos, mas a essência do fazer jornalismo sempre persistirá.

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Jornalista, blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo, São Paulo, SP