Friday, 08 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Cultura e economia marcam peculiaridades em publicações

Um ator de 50 anos, que sofre de mal de Parkinson, vende para um tabloide um vídeo em que aparece tendo uma relação sexual, e ainda dá uma entrevista exclusiva para a publicação. Depois, resolve processar o jornal por extorsão. Engana-se quem pensou que o tabloide em questão era o britânico News of the World. A história, na verdade, aconteceu com o maior jornal da Alemanha, o Bild Zeitung. Os escândalos de escuta telefônica no Reino Unido trouxeram o foco das práticas jornalísticas escusas para a imprensa britânica, mas os tabloides com postura agressiva não são exclusividade da terra da rainha Elizabeth: são onipresentes em países desenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil.

O Reino Unido tem seis tabloides nacionais. Já a França orgulha-se de não ter tabloides, mas no país há revistas com posturas agressivas (Closer e Gala) e o semanário satíricoCanard Enchaîné, que faz um trabalho semelhante – até onde as leis de privacidade do país permitem. Nos EUA, há poucos exemplos na mídia impressa, mas o estilo tabloide em programas de TV, com fofocas e notícias sobre a vida particular de famosos, foi inventado lá. Já Itália, Espanha e Japão têm tabloides com foco no esporte.

Os tabloides britânicos são muito focados em questões de entretenimento, enquanto os alemães têm maior conotação política. O Bild, por exemplo, tem três vezes mais cobertura política do que o Sun, segundo estudo da autora Susanne Höke. Em ambos os países os tabloides ajudaram a estabelecer o tom de um debate político, mas as matérias do Bild são mais elaboradas e criativas. No começo da crise do euro, por exemplo, o Bild enviou um repórter para distribuir dinheiro em Atenas e alegou que o jornal estava “devolvendo os drachmas [moeda grega] aos gregos falidos”. O tabloide sugeriu, ainda, maldosamente, que os gregos vendam algumas ilhas e a Acrópole para pagar suas dívidas. Para a editora do Bild, Kai Diekmann, muitos veem o jornal como um pilar da democracia.

Furos e fraudes

Apesar destas diferenças, foram os britânicos que desceram ao nível mais baixo na maneira de obter informações – ao fazer escuta ilegal, pagar propina a policiais e obter registros financeiros e de saúde particulares. “O comportamento do Bild é muito menos destrutivo”, opina Lukas Heinser, que escreve para o BILDblog, blog sobre as falhas do jornal alemão.

A cultura política e a história também explicam algumas peculiaridades. Na França pós-guerra, muitos editores tinham laços com ex-redes de resistência. Os jornais ainda são vistos como meios de se atingir objetivos políticos e não de lucro, diz Jean-Clément Texier, consultor de um banco de investimento especializado em mídia. Já Olivier Fleurot, ex-chefe-executivo do Financial Times Group, observa que a imprensa francesa sempre foi voltada para as elites – o Le Figaro para os ricos, o Libération para a esquerda culta e o Le Monde para os intelectuais. “Eles ainda não entenderam o que uma audiência de massa quer ver em um jornal”, afirma.

Mas o motivo mais importante para as distinções é o econômico. Se o Sun e seus rivais são mais agressivos que o Bild, é porque a competição no Reino Unido é mais intensa do que na Alemanha. Enquanto os tabloides britânicos são vendidos nas bancas – o que torna as manchetes sensacionalistas ainda mais importantes –, o Bild é um quase-monopólio.

O ponto em comum é a queda na circulação. Mesmo o News of the World sendo o segundo jornal mais vendido no Reino Unido, com uma tiragem de 2,6 milhões, é bem menos do que os nove milhões que costumava vender nos anos 50. Desde 2001, o Bild perdeu mais de 1,5 milhões de compradores.

Ainda assim, é prematuro avaliar o fechamento do News of the World como um sinal do fim dos tabloides – que estão em declínio na versão impressa, mas não na online. O site do britânico Daily Mail registrou recentemente 40 milhões de visitantes únicos, segundo a comScore, sendo o segundo maior site de jornal em tamanho de público, atrás apenas doNew York Times. Informações da Economist [14/7/11].