Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os desafios da imprensa brasileira

A imprensa brasileira vive hoje sob grandes dilemas e às véspera de novos paradigmas: como sobreviverá o Brasil como a nona economia do mundo, em que as exigências do mercado serão infinitamente maiores do que as atuais? Haverá veículo de comunicação sem público? De que forma se dará a produção de um veículo de comunicação: orientado pelos deuses das redações responsáveis pelas pautas? Ou simplesmente orientado pela medusa da sua direção empresarial-financeira? Guiado por constantes e permanentes pesquisas mercadológicas?


Embora o número de veículos locais tenha explodido nos últimos 10 anos país afora, com sua multiplicação, o estreitamento deles a nível nacional tem sido cada vez mais premente. O caso da brusca queda da tiragem do ex-jornalão da Barão da Limeira ainda não foi analisado em profundidade e hoje essa pontua como uma das tarefas que se impõem cada vez mais na agenda de um dos responsáveis, ao lado do baluarte disso, o saudoso gênio Claudio Abramo, pela gigantesca ascensão da Folha de S.Paulo de 300 mil para 1 milhão e 500 mil diários: o jornalista e escritor Alberto Dines.


Bilhões de palavras já foram consumidas pelos infinitos cadernos lançados ao público – e mais do que isso, numerosas florestas já foram derrubadas para se fazer papel antes do plantio de milhares de hectares de eucalipto –, mas a preocupação central da sociedade não veio à tona: a conquista do leitor. Parece um enigma: que fazer para conquistar o leitor?


Primeiro: deve-se criar o leitor. Sim, no país onde quase um terço da população é analfabeta, semi-analfabeta e analfabeta funcional, por que não se incentiva o aparecimento do novo leitor? Claro: para ler jornais, e ainda mais, comprá-los, é preciso mais do que saber ler. É preciso gostar de ler, como se gosta de comer ou dormir. Ora, se não há o incentivo ao novo leitor, muito menos ao gosto pela leitura, e muito menos ainda pela leitura de jornais. Essas indagações nos levam ao âmago da questão: seria preciso uma cruzada nacional que envolvesse governos e a imprensa brasileiros para tornar isso possível, tipo campanha histórica, como aquela ‘O petróleo é nosso’, liderada por Monteiro Lobato antes, durante e depois da 2ª Grande Guerra Mundial.


A pobreza da ignorância


A imprensa brasileira precisa acordar para essa realidade e não venham dizer que isso é uma ideia jurássica. Não deixa de ser vergonhoso que nos satisfaçamos com essas tiragens da pequena e grande imprensa brasileira. Veja que vergonha: os metrôs e os trens transportam no Brasil por dia mais de 20 milhões de passageiros. Viaje neles e veja o insignificante número de passageiros lendo jornal. Entre nos mesmos veículos nos EUA e na Inglaterra e veja se dois terços dos passageiros estão ou não lendo o seu jornal? O que é isso: sede de leitura e por atualização? Hábito de leitura? Qualidade dos temas abordados? Preços dos produtos? Acessibilidade na distribuição?


Uma pergunta comum ao exame dessas sugestões: com uma imprensa de um modo geral engessada por diferentes preconceitos e por um Congresso Nacional sem saber o que fazer com sua relativa autonomia, por onde começará a busca de novos caminhos pela imprensa brasileira para se libertar dessas tiragens que a escravizam?


Começa por uma grande campanha nacional para acabar de vez com o analfabetismo, o semi-analfabetismo e o analfabetismo funcional. Em síntese: não basta encher a barriga do sujeito, acabando com a miséria física, é preciso acabar com a pobreza da ignorância. Pois sem isso, toda a campanha pelo fim da fome a ser reforçada pelo novo governo estará fadada ao insucesso. Por isso, sugerimos quer a imprensa brasileira acorde com a leitura de Josué de Castro antes que seja tarde e fiquemos de uma vez controlados pelo mercado.

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Jornalista e escritor