Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma breve autocrítica

Não são comuns os momentos em que a imprensa brasileira atravessa o fluxo de informações com uma reflexão sobre a própria natureza da informação que veicula.


Essa circunstância é ainda mais rara no noticiário econômico, que de maneira geral flui constantemente pelos dutos do liberalismo, sem admitir qualquer desvio conceitual sobre o que os jornais consideram como dogmas.


Pode-se afirmar, sem qualquer dúvida, que esse é o campo no qual a imprensa tradicional demonstra mais vivamente sua ojeriza a discutir sistemas.


Por essa razão, chamam atenção as entrevistas publicadas neste domingo, dia 8, pelo Estadão, no qual se observa, entre outras coisas, que a fé cega, quase fundamentalista, em modelos de mercado supostamente perfeitos e infalíveis ajudou a construir o cenário da crise financeira de 2008, cujas consequências ainda afetam a economia mundial.


No texto principal que apresenta o tema, o jornal paulista afirma que o pensamento econômico virou refém da crise, e introduz no debate a tese de que a macroeconomia precisa ser arejada porque seus modelos matemáticos foram colocados em xeque.


Modelo absoluto, realidade dinâmica


Além de observar que os analistas têm errado ao limitar o estudo sobre o funcionamento geral das economias e de seus componentes (desconsiderando, por exemplo, a economia comportamental), o texto levanta dúvida sobre o valor de informações como inflação, Produto Interno Bruto e taxas de consumo e investimento em um modelo que considera perfeitos os mecanismos internos de equilíbrio e controle do mercado financeiro.


Numa visão geral, trata-se de questionar a aplicação de modelos matemáticos absolutos sobre uma realidade dinâmica na qual uma das principais variáveis, o mercado, tem pouca previsibilidade.


Alguns pesquisadores consultados pela reportagem observam que os modelos de simulação matemática acabaram apropriados por uma ideologia que dogmatiza a visão econômica para desautorizar qualquer interferência do Estado.


Acontece que, sem a ajuda do Estado e a regulação dos bancos centrais, o mercado não teria emergido da crise finaceira de 2008, o que contradiz a visão que a imprensa impõe tradicionalmente a seus leitores.


Mas a reflexão proposta pelo Estadão no domingo foi apenas um soluço.


Nesta segunda-feira (9/5), o jornalismo econômico volta ao seu eixo conservadoramente liberal.