Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Erros e acertos

Osama bin Laden está morto. Seu corpo, segundo os EUA, jaz no fundo do oceano. Das reações que se seguiram ao anúncio, feito na madrugada de domingo para segunda-feira (2/5), uma chama especial atenção: aqueles que condenam o ataque americano em virtude das possíveis represálias empreendidas pela Al-Qaida, a rede terrorista da qual Bin Laden era líder. A ideia é ruim. Convenhamos: a Al-Qaida não precisa de mortos para atacar. A natureza de sua ideologia é ser anti-Ocidente (especialmente antiamericana) e, não houvesse morte de Osama, o risco de um atentado também existiria. Ademais: que figura teria sido morta para que eles dessem cabo do 11 de Setembro, nada mais nada menos que o maior ataque terrorista da História? Nenhuma!

Terroristas são terroristas porque não precisam de uma justificativa razoável para levar adiante seus planos homicidas. Além disso, o argumento de que os EUA não deveriam atacar temendo represálias terroristas acaba fazendo o jogo dos próprios terroristas. Seria equivalente a argumentar que o Ocidente devesse requisitar a opinião dos extremistas sobre sua conduta. Seria deixar o Ocidente refém de um pequeno grupo de indivíduos doidivanas. Seria como perguntar à raposa como as galinhas devem portar-se.

‘Ele pode nem ter sido morto, visto que não há corpo,’ É uma alegação sem sentido. O presidente americano não se arriscaria a anunciar a morte de Obama e vê-lo daqui uns meses num vídeo divulgado pela Al-Qaida. Seria a completa desmoralização. Tendo em vista o cenário interno dos EUA, a última coisa que Obama desejaria seria a desmoralização.

Não há como negar o componente político da morte de Bin Laden. A verdade é que Obama precisava de um Osama. Não há dúvida de que o maior cabo eleitoral de Obama será… Osama. Morto! O presidente dos EUA, desde já em campanha para reeleição, deve usar amplamente o fato a seu favor. Há quem diga, claro, que caso venha a fazer isso Obama estará fazendo uso político descabido da captura. Estaria politizando a morte. Também é uma bobagem. A captura de Bin Laden tem dimensões políticas e, se foi realizada no governo Obama, ele pode, sim, tirar proveito do feito. Mundo afora presidentes fazem uso político das vitórias de seus exércitos. Por que só com os EUA isto seria condenável? O presidente é, em última instância, o comandante-em-chefe das forças armadas. As vitórias dela são também suas.

Matar Osama foi o principal acerto de Obama.

O erro de Obama

A morte de Bin Laden evidencia um problema para o presidente americano: a região do Oriente Médio, historicamente conflituosa, pode ficar ainda pior. O discurso de Obama, em que exalta a operação e termina com ‘a justiça foi feita’, tem potencial para incendiar o Oriente Médio. Ainda que os americanos tenham tomado a decisão acertada de não divulgar fotos nem sepultar o corpo em terra, a fala do presidente norte-americano não deixa de ser emblemática – e tem tudo para incitar ao ódio. Some-se a isso o antiamericanismo latente na região e a instabilidade política – ou alguém ainda acredita no sonho dourado da ‘Revolução do Facebook’? – tem-se, certamente, um Oriente Médio menos receptivo ao Ocidente.

No Egito, por exemplo, a Irmandade Muçulmana já se organizou para participar das eleições, marcadas para setembro. A Síria reprime a bala seus opositores. Na Líbia, o ditador ainda no poder armou a população. Que governante faria isso se não tivesse total confiança de que o povo estaria a seu lado?

Obama só não quer chamar de guerra o que, de fato, é guerra. Disse não quer e retifico-me: não pode. Para armar opositores – e tomar claramente uma posição no conflito – ele passou por cima do Congresso americano (que deveria aprovar a entrada do país numa guerra) e, de quebra, mandou às favas uma resolução da ONU que nem sequer fala em depor o ditador líbio.

O erro de Obama é confiar na falácia do Oriente Médio democrático. A cada dia, agora muito mais, o sonho fica mais distante. Com a morte de Osama bin Laden, o Oriente Médio tende a ficar ainda mais árido para os norte-americanos.

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Jornalista, Curitiba, PR