Acabou a lua de mel ou a quarentena: a mídia voltou a espicaçar o governo, no caso, o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Na edição de domingo (15/5), a Folha de S.Paulo denunciou um aumento muito expressivo e, aparentemente, sem justificativas do patrimônio do ex-ministro da Fazenda.
Não foi vazamento nem boato: o jornal investigou com cuidado, pediu explicações ao denunciado e como as considerou insatisfatórias, destacou em manchete. Manchete discreta, diga-se, de apenas três colunas. No dia anterior, sábado, o principal título da primeira página (sobre a vingança do Taleban) era maior, ocupava quatro colunas.
O tom da denúncia é contido, sem qualquer travo sensacionalista, desprovida de adjetivos ou ilações. Ao contrário das anteriores revelações de semanários – geralmente sopradas para o resto dos veículos –, esta saiu apenas na Folha. No meio da tarde repercutiu discretamente nos portais da internet e à noite, nos programas de TV.
Papel fiscalizador
O ministro Palocci sempre mereceu da mídia um tratamento especial, jornais e jornalistas apreciam sua competência, moderação e, sobretudo, sua prudência. O que não impediu seu afastamento em 2006, envolvido no caso da violação do sigilo bancário do caseiro de uma mansão na capital federal.
As explicações do ministro são fartas, mas insuficientes: o súbito e forte enriquecimento teria ocorrido quando era deputado federal, o que denota uma atividade de lobista que não chega a ser ilícita, mas imprópria.
Quaisquer que sejam os desdobramentos, evidencia-se que a imprensa aprendeu a exercer o seu papel fiscalizador de forma madura, equilibrada, quase impessoal, sem o furor de outros episódios. Resta saber se os demais poderes vão aprender a se comportar reconhecendo e punindo os seus malfeitos.