Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma primeira página, por favor

A educação brasileira vai mal, todos sabem, porém a luta da sociedade é irrisória e pouco efetiva onde os governos fazem de tudo para acabar com a educação e dar-lhe qualidade e eficiência. Não sabemos as origens dessa situação, porém o bode expiatório sempre será a figura do professor, que em muitos casos é tachado de incompetente, descompromissado e desqualificado no momento em que vemos várias avaliações mostrarem a distância que separa o país de outras nações do globo. Por que a educação não é uma prioridade nacional? Por que não ocupa as primeiras páginas de jornal ou das revistas de circulação nacional? Claro que existe uma negligência – não sabemos se proposital – dos meios de comunicação em relação à educação. Quantos programas de televisão existem para enaltecer o papel dos educadores ou mostrar boas experiências que existem em todos os recantos do país? Certamente, o processo de comunicação a respeito da educação está muito aquém da importância que a mesma merece.

Vemos nos jornais de circulação nacional pouco ou nada referente à educação e a educadores e os noticiários de televisão só noticiam as coisas más da educação: tragédias, brigas, bullying, destruição e drogas são os quesitos fundamentais nas reportagens sobre educação, talvez porque a desgraça sempre dá ibope. A situação da educação deveria ser exaustivamente debatida, discutida, analisada e a negligência dos governos deveria ser denunciada para que haja uma ação da sociedade em termos de mobilização pela educação de qualidade. No momento atual, a luta é pelo cumprimento de uma lei sancionada pelo ex-presidente Lula e declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, mas que não é cumprida pela maioria das prefeituras e dos governos. O que se faz nesse sentido é uma verdadeira agressão aos professores e por via indireta aos alunos, que precisam de professores satisfeitos para gerar um bom processo educativo.

Onde estão os ‘caras-pintadas’?

No momento, na cidade de Fortaleza os professores municipais desenvolvem uma greve que já vai nos meados do mês em função de um mísero cumprimento de uma lei que a prefeitura de Fortaleza não quer cumprir apenas por maldade, desinteresse ou negligência. Porém, não há levante da sociedade em relação ao que se faz com os educadores de Fortaleza, que são pressionados pelos gestores municipais com ameaças de diretores biônicos (visto que não são eleitos pela comunidade) e com descaso da Câmara de Vereadores, sempre subserviente, e da Justiça, que deveria zelar pela lei e seu cumprimento. Seria uma oportunidade ideal para os meios de comunicação provarem sua força, criando oportunidades para os educadores dizerem do seu desencantamento, falarem dos problemas da educação e mostrarem sua capacidade, mas isso não acontece. As notícias só falam da greve por falar e, geralmente, no rodapé do jornal como notas soltas, às vezes com muita distorção da realidade. A função verdadeira da imprensa neste momento seria cobrar posicionamento do Poder Público como descumpridor da lei, como aniquilador da educação. Mas não o fazem, pois as verbas publicitária são objetos de desejo de nossa mídia.

Acredito que a mesma situação esteja presente em todo Brasil, porém há uma ocultação da realidade por parte da mídia, não há mobilização firme da sociedade em relação a uma Lei que tem todos os aspectos legais e é desdenhada pelos governantes que, certamente, não têm seus filhos na escola pública e por isso a desprezam e a negam. Em Fortaleza, uma economista é secretária de Educação e, por trucidar professores, ganha de presente mais uma Secretaria: a de Saúde… Será que fará o mesmo com os médicos?

Nossos poderes legislativos não têm compromisso com educação, pois fazem ouvido de mercador em relação ao cumprimento da Lei do Piso. Não falam nada, não dizem nada, não expressam opiniões e calam-se diante do escárnio e da desconsideração promovida pelos governos a que servem… Será que dormem tranquilos?

Nossa imprensa é fraca neste quesito e nossas representações populares estão cooptadas pelo poder. Como dizia Cazuza, ‘meus heróis morreram de overdose e meus inimigos estão no poder…’ Resta a alguns, apenas como terapia, denunciar, mas a repercussão será zero, pois duvido que alguém repercuta este artigo… Como diria Raul Seixas: ‘Estão muito ocupados pra pensar…’ Vergonha, imprensa, vergonha, meu povo… Onde estão os ‘caras-pintadas’? Onde estão as representações populares? Ah, ia me esquecendo… Têm cargos nos governos de plantão e realmente todos odeiam os professores…

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Professor, Fortaleza, CE