Cerca de 30 jovens mães fizeram um ato político anteontem, em São Paulo, ao amamentar seus filhos no saguão do Itaú Cultural. O ‘mamaço’ (nome um tanto abrutalhado diante da cena singela) foi convocado pelo Facebook, depois que uma das mães havia sido proibida de amamentar seu filho no centro de exposições.
O movimento ganhou corpo, por ironia, depois que uma outra mãe teve retirada do Facebook uma foto em que aparecia amamentando. E, no final, o próprio instituto cultural acabou colaborando para que a manifestação fosse um sucesso.
Eis um ato em que os alvos do protesto (Itaú Cultural e Facebook) funcionaram, ao mesmo tempo, como ‘produtores’ do espetáculo.
Comunhão e cacofonia
Ainda estamos conhecendo as possibilidades, o alcance e os paradoxos das chamadas redes sociais.
Há quem diga que o ativismo praticado pelas redes se define menos pelas causas que abraça do que pelas ferramentas que emprega; o vínculo entre os participantes seria débil, efêmero. É essa a opinião do jornalista Malcolm Gladwell, num ensaio famoso chamado ‘A revolução não será tuitada‘. As revoltas em curso no mundo árabe em boa medida desafiam esse diagnóstico.
Mas voltemos ao nosso quintal. Até o momento em que escrevo, estavam ‘confirmadas’ 55.103 pessoas para o ato público convocado pelo Facebook, hoje [sábado, 14/5] à tarde, contra aqueles que se opõem à estação do metrô em Higienópolis. Mais de 50 mil pessoas! Mas quantos desses facebookers irão mesmo ao ato? – 50%? 10%? 1%? Nem isso? Para quantos o próprio ‘ato’ se resume ao impulso de apertar o botão sentado na cadeira e dizer ‘confirmo’?
Podemos, no entanto, inverter o raciocínio: quantos estariam simplesmente alheios a qualquer engajamento ou debate público se não fosse essa ferramenta tão à mão?
Estamos diante de algo novo: um espaço de comunhão e cacofonia, nem público nem privado, em que exibição confessional e política se misturam como leite no café.
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Jornalista