Mais de 100 mil norte-americanos entraram, até este domingo (31/8), no sistema de micromensagens Twitter para apoiar o irritado desabafo do jornalista Jeff Jarvis contra as manobras partidárias no debate entre Congresso e Casa Branca sobre o aumento do limite do endividamento da administração Obama.
Há uma semana, Jarvis não conseguiu conter a sua frustração sobre o jogo de empurra entre os políticos norte-americanos e despejou a sua raiva numa postagem no seu Twitter com a seguinte frase: “Hey, Washington assholes, it's our country, our economy, our money. Stop fucking with it” (Oi, estúpidos de Washington, é o nosso país, nossa economia, nosso dinheiro. Parem de f…. com ele).
Nos cinco minutos seguintes, surgiu uma verdadeira avalancha de comentários, em sua maioria de apoio. A catarse coletivagerada pelo FuckYouWashington chegou aos 90 mil tweets no sábado (30/7) e na segunda feira (1/8) já tinha passado dos 110 mil . O fato acabou entrando na agenda da mídia norte-americana embora os jornais brasileiros tenham ignorado o protesto de Jarvis, que também é professor de jornalismo, blogueiro e consultor de comunicação online.
Atenção seletiva
Jarvis disse que seu gesto foi uma explosão emocional ao verificar como os políticos “brincavam com a economia nacional e mundial, pensando nas próximas eleições nos Estados Unidos e sem levar em conta que estavam fazendo os norte-americanos de palhaços”. O critico da mídia, Howard Kurtz, admitiu ter ficado surpreendido com a intensidade da raiva dos eleitores de seu país, e anteviu que explosões como esta tendem a se tornar mais freqüentes por causa das facilidades de comunicação oferecidas pela internet.
Jeff Jarvis reproduz o gesto do personagem do ator Peter Fynch, no filme Network (1976), que interrompeu a apresentação de um telejornal para pedir que os telespectadores fossem até a janela e gritassem “Eu não aguento mais”.
O caso do “Dane-se Washington” revela o grau de insatisfação que está tomando conta da opinião pública em vários países, sem que a imprensa expresse isto em suas manchetes. O jogo irresponsável dos políticos norte-americanos com a dívida trilionária do país provocou um ressentimento idêntico ao que a repetição dos casos de corrupção em Brasília vem gerando entre os brasileiros. Na Europa, as manifestações de já viraram rotina
Nossa imprensa dá mais atenção à insatisfação popular em países árabes do que ao que acontece aqui e que se expressa nas cada vez mais freqüentes explosões populares de baixa intensidade em cidades e bairros da periferia de grandes capitais.
Algo além
A imprensa ainda trata a internet apenas como uma curiosidade tecnológica ou modismo social, mas ela vem revelando um potencial desestabilizador como ferramenta para protestos.
Quando um professor de jornalismo, que está longe de ter a visibilidade de uma personalidade televisiva, consegue mais de 100 mil simpatizantes numa semana para sugerir que os políticos de “Washinton se f….”, é porque há mais coisas no ar do que aviões de carreira, como se diz aqui no Brasil.
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[Carlos Castilho é jornalista]