Uma das coisas que aprendi ao longo da minha experiência jornalística foi a necessidade de analisar o todo e fazer as considerações sobre as partes. Esta é a história do lead.
Leio no editorial da Folha de S.Paulo do dia 28 de julho que esta experiência não é mais significativa. Agora, a parte inviabiliza o todo. Vamos lá explicar: existe uma lei – a primeira feita no país – que trata das mudanças climáticas na cidade de São Paulo. Problema importante, o mundo inteiro não consegue administrar direito a questão, e aqui em São Paulo ousou-se avançar para atender ao que os cientistas proclamam aos quatro ventos. Vem coisa aí, e é pra valer. Nesse sentido, atendendo à Lei de Mudança do Clima, a prefeitura vem trabalhando para sua implementação sob a ótica da mitigação e da adaptação. Não está nos manuais de desenvolvimento urbano, mas se incorpora à necessidade de buscar respostas aos eventos extremos que assistimos perplexos nas cidades e no mundo todo.
Voltamos ao editorial. Comete primeiro um pecado capital: a lei não corresponde à política ambiental – ela indica medidas ou instrumentos para se dar consecução e praticidade à política. Segundo pecado capital: há um artigo, o penúltimo dentre 50, que trata sobre coleta seletiva e instalação de ecopontos. O editorial desconhece o todo e delira com uma parte. E mais: acelera o ventilador misturando a lei com campanha eleitoral. Por que tamanha virulência, quando o modelo adotado na destinação dos resíduos sólidos urbanos em São Paulo (15 mil toneladas/dia!) é visitado por técnicos de todo o mundo como prática a ser reproduzida? Quantas pessoas são beneficiadas por isso?
Em outra parte da lei – energia –, os aterros estão dando a resposta certa. Então me pergunto: meu Deus, isso é notícia? Cui Bono?
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[Volf Steinbaum é secretário executivo do Comitê Municipal de Mudança do Clima e Ecoeconomia, São Paulo (SP)]