Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O papel das ‘celebridades’ na campanha

A representação e a função dos ‘famosos midiáticos’ nas campanhas eleitorais é um problema crônico, já longamente discutido, porém pouco conhecido pelos eleitores em geral e que se repete toda eleição. Quando votamos em candidatos do poder legislativo (deputados federais, estaduais, senadores e vereadores), apesar de votarmos individualmente em um candidato, e não no partido, temos que ter em vista que a eleição é proporcional e que os votos recebidos pelas celebridades (que na maioria das vezes sequer sabem o que faz um deputado, por exemplo) são somados e revertem para os partidos, que elegem determinado número de candidatos (independente de quantos votos receberam), na proporção dos votos obtidos pelos candidatos populares.

Em 2006, ano da última eleição presidencial, escrevi um pequeno texto sobre esse assunto e, ao ver o humorista Tiririca – e, principalmente, a entrevista dada por ele à Folha de S.Paulo, disponível aqui –, corri meus arquivos em busca desse texto e o encontrei! (Segue abaixo).

O Tiririca representa como poucos a figura da celebridade que levanta votos para o partido em questão. Confirmação dessa lógica fica explícita quando Tiririca declara, em entrevista à FSP, que sua campanha será toda patrocinada pelo partido, que o convidou e o rodeou de assessores. Ao votar em candidatos como o Tiririca (que muito provavelmente terá uma votação alta), o problema maior não será ver o ‘abestado’ (forma como o próprio Tiririca se intitula em sua propaganda) no Congresso, mas sim, imaginar que tipo e quais intenções possuem os outros candidatos que irão ao Congresso bancados pela grande votação do humorista. Não é muito difícil imaginar o tipo de político que usa dessa artimanha da mídia para chegar ao Congresso.

Texto de 2006 escrito para jornal universitário Expressão, da USJT.

Reforma Política, um direito do cidadão

‘Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos’ (Artigo 1º, Parágrafo Único da Constituição Federal)

Será que algum dos quase 740 mil eleitores do deputado federal eleito Paulo Maluf sabe quem é Marcelo Mariano e Neudo Gomes? E quanto aos 494 mil que elegeram o deputado Clodovil Hernandez pelo PTC? Algum deles conhece a deputada Ângela Portela?

Entre os três nomes desconhecidos citados acima, o laço que os liga é o mesmo. Todos chegaram ao Congresso Nacional com uma média de menos de 10 mil votos (segundo dados do TSE), carregados pelos astros que os ‘apadrinharam’.

Só para se ter uma ideia, no livro Por Dentro do Governo Lula, (lançado em 2005), a cientista política Lucia Hippolito afirma que nas eleições de 2002 mais de 93% dos 513 deputados federais foram eleitos com votos de legenda. Apenas 33 deputados se elegeram com votos próprios.

Professora de Sociologia e Psicologia da Educação, a autora do livro Policidadania – Política e Cidadania, Lucrecia Anchieschi, acredita no projeto de lei que prevê listas fechadas de candidatos para as próximas eleições como solução. ‘Os eleitores não votariam mais individualmente em seus candidatos a vereador, deputado estadual e federal, mas nos partidos, que concorreriam nas eleições com listas de candidatos pré-selecionados em convenções. Por exemplo: se um partido tiver direito a oito cadeiras, entrarão os oito primeiros nomes da lista.’

Hoje a eleição já é proporcional. A diferença é que os eleitores votam em candidatos individualmente. Esses votos, somados, revertem para os partidos e cada um elege determinado número de candidatos na proporção dos votos obtidos.

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Jornalista, São Paulo, SP