Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Liberdade de imprensa e a imprensa liberta

A chamada grande mídia está com medo. Vê, paulatinamente, ruir seus alicerces antiquados, nepotistas e reacionários. Prova disso é a capa da edição corrente de Veja, a mais conservadora delas. Com o título ‘A liberdade sob ataque’ chega até a reproduzir artigos da Constituição Federal que só são cumpridos quando há o interesse de fazê-lo. Afinal de contas, que imprensa a revista acredita que querem calar? Esta, embolorada e viciada que está aí e da qual Veja faz parte ou a nova imprensa que nasceu com a liberdade dos blogues e das redes sociais?

Durante a faculdade (apenas para os diplomados, claro…), somos ensinados a crer que a prática do bom jornalismo passa, necessária e invariavelmente, pela isenção, pela ética e pela moral. Aprendemos que sempre devemos ouvir os dois ou mais lados da questão e que nossa missão é formar opiniões para salvaguardar o direito da sociedade em receber uma informação clara, pura, translúcida. Isso seria, ao menos em tese, bom para o cidadão e ótimo para o país.

Na prática, porém, como todos sabemos, a teoria é outra.

A revista Veja e os velhos jornalões – agora reduzidos a três (Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo) – insistem numa pseudo-liberdade de imprensa que eles não exercem. As notícias e opiniões sempre são dirigidas a interesses diversos que não são os mesmos da sociedade. Querem pautar a população com informações enviesadas que, sabidamente, tendem apenas a manter o establishment e nada oferecem de concreto para esta sociedade. Parece que não aprenderam as lições com a ascensão e queda de Collor, e tantos outros ‘pés pelas mãos’ cometidos ao longo da história.

Politizam o que não é para politizar

Passei, recentemente, pela maior greve do funcionalismo público de São Paulo. A minha categoria – Judiciário estadual – paralisou as atividades por 127 dias. As notícias (poucas) que saíram na tal da grande mídia eram ácidas, críticas e quando nos ouviam já vinham com a pauta pronta, sequiosos pelas respostas que combinavam com o texto que necessitavam fazer. Registre-se, aqui, que houve uma ou outra exceção (até para justificar a regra).

Semana passada, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, com seu histórico auditório Vladimir Herzog, foi palco de um ato promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, entidade da qual sou membro do Conselho Consultivo (ainda que ausente por tantos compromissos). O ato, que reuniu quase mil pessoas, é prova irrefutável de que algo está errado com esta mídia em estado de obsolescência [ver, neste Observatório, ‘Entidades repudiam ‘golpismo midiático‘].

É óbvio, que a grande mídia não soube assimilar o golpe. Prefere um reducionismo tolo ao afirmar que o ato é político-partidário com infiltrações de diversas organizações sociais ou aquilo que a Veja acredita ser o ‘petismo’. E é justamente aí que as revistas e jornais anacrônicos erram. Politizam, partidariamente, o que não é para politizar. Defendem seus candidatos e interesses tratorando as lições do bom jornalismo.

Pois bem. Não sou petista. Nem mesmo sou alinhado a muitos dos dogmas do Partido dos Trabalhadores, em que pese reconhecer sua importância na política nacional. Meus candidatos, há mais de duas décadas, raramente são eleitos porque voto em pessoas, e não em partidos. Ou seja: nem de longe faço parte do ‘petismo’ e, além de mim, há milhares de colegas que analisam a mídia sob uma nova ótica.

Quem viver, verá

Será Erenice Guerra corrupta? Seus parentes idem? Ora… Todos foram dispensados e ponto final. Que a Receita Federal, Polícia Federal e todas as instituições envolvidas investiguem e apontem culpados. Mas este, e outros casos, são usados como moeda de troca no circo eleitoral. Ao tomar partido, a velha mídia erra e abre cada vez mais espaço para a mídia alternativa a que tenho orgulho em pertencer.

Esta nova imprensa nasce liberta. E alguns, mais cáusticos, hão de dizer: ‘Não é liberta… Também defende seus interesses…’ Pois bem. A mídia alternativa, amparada por blogues e redes e organizações sociais diversas, nasce para ser o contraponto, nasce para restabelecer o equilíbrio, nasce para mostrar o outro lado que a velha mídia esqueceu das lições do jornalismo isento e imparcial.

Atenção, barões da mídia: a extinção da versão impressa do Jornal do Brasil (o quarto jornalão histórico de nosso país) não foi um caso isolado. Há ainda muita letra a passar pela rotativa. Quem viver, verá.

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Jornalista