Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imprensa é “paz e amor”

Os grandes jornais de circulação nacional começam a baixar o tom na campanha eleitoral. Seus analistas consideram que o estrago produzido na candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff está consolidado e que a eleição já não será definida no primeiro turno. Depois do dia 3 de outubro, o jornalismo-tacape provavelmente voltará à cena.


Na terça-feira (28/9), a Folha de S.Paulo chega a publicar uma reportagem em página dupla tentando demonstrar que não tem sido mais agressiva contra o atual governo do que foi contra governos anteriores, desde Itamar Franco.


A reportagem da Folha reconhece, de passagem, apenas um exagero: a insistência com que martelou o governo Fernando Henrique Cardoso, em 1998, no caso do chamado Dossiê Caribe. Uma das peças-chave da denúncia era falsa, assim como não se provaram verdadeiros outros casos publicados pelos jornais em diferentes ocasiões.


Autoria assumida


A Folha tenta demonstrar que cumpre com equilíbrio sua função de analisar criticamente e fiscalizar as ações dos governantes, sejam eles quem forem. O jornal paulista apenas não esclarece as diferenças de intensidade, continuidade e periodicidade que dedicou a cada um desses casos.


E mesmo que venha a se justificar, eventualmente corrigindo erros, como no dossiê Caribe, isso não impede que a ação irresponsável da imprensa continue a fazer estragos pelos tempos afora, principalmente em épocas de eleições.


Em 12 de março de 2008, o jornalista Elio Gaspari publicou em sua coluna na Folha de S.Paulo e no Globo uma nota lembrando o atentado a bomba contra o consulado dos Estados Unidos ocorrido em 1968, em São Paulo.


Mesmo tendo sido publicada, já em 1992, uma entrevista do repórter Mário César Carvalho com o líder do grupo que assumiu a autoria do ataque, esclarecendo que foram três os autores, Gaspari afirmou que havia sido cometido por cinco integrantes da guerrilha esquerdista, incluindo entre eles o nome da militante Dulce Maia, que seria um codinome.


Original distorcido


Mais tarde, processada pela Dulce Maia verdadeira, a Folha de S.Paulo foi condenada em primeira instância por danos morais, por ter reproduzido informações do texto de Elio Gaspari, e o colunista acabou divulgando um pedido de desculpas a Dulce Maria – que ela considera meramente burocrático.


Pois o mesmo artigo de Gaspari circula agora na internet, postado em pelo menos 500 endereços, com um adendo no final, no qual se afirma que Dulce Maia é na verdade… Dilma Rousseff.


A verdadeira Dulce Maia ainda não desistiu de ser alcançada pela Justiça e se esforça para distribuir emails nos quais esclarece que segue sendo acusada de uma coisa não fez, mesmo que o ato a ela atribuído por Elio Gaspari esteja agora sendo imputado à ex-ministra e candidata à Presidência da República.


É assim que funciona.


Mesmo jornalistas consagrados como Gaspari podem cometer erros. Mas esses erros nunca são corrigidos com o mesmo destaque, eventuais correções ficam escondidas em notas curtas, e quando o texto original equivocado e distorcido é usado como artilharia de campanha, os autores fingem que não é com eles.


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Observatório da Imprensa na TV


Alberto Dines


A crise governo-mídia é artificial, o país vive uma de suas melhores fases, eleições parciais acontecem a cada dois anos e as majoritárias, a cada quatro. Numa democracia, poderes e instituições têm o direito de fazer suas opções. O governo aposta todas as suas fichas na continuidade do seu projeto e a imprensa aponta abusos na utilização da máquina oficial. Esta é uma tensão normal e como tal deveria ser tratada.


Superdimensionada, pode criar uma bola de neve com velocidade e tamanho imprevisíveis. Com a mídia e o governo completamente engajados em suas posições, sem pontes para o diálogo, não sobra espaço nem disposição para análises equilibradas. A edição televisiva desta terça-feira (28/9) do Observatório da Imprensa pretende fazer exatamente isto: mostrar os dois lados da questão através de dois expoentes da observação da mídia no país: os professores Venício A. de Lima e Eugênio Bucci. Nesta terça pela TV Brasil às 22h, ao vivo, em rede nacional. Em São Paulo pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA.