As efemérides ensejam boas oportunidades para a revisão crítica dos processos históricos, além, naturalmente, das celebrações festivas que fortalecem a auto-estima dos protagonistas desses eventos. Este tem sido o caso do aniversário da televisão na América Latina, comemorado no Brasil, com pompa e circunstância, no dia 18 de setembro de 2010.
Vários livros, ensaios e artigos têm sido lançados resgatando a singularidade desse episódio, através do qual Assis Chateaubriand quis marcar a presença do nosso país na cronologia da era audiovisual. Acrescenta-se a essa lista o presente volume, sobre a história do telejornalismo verde-amarelo, mobilizando professores, pesquisadores e profissionais de quase todo o território nacional.
O resultado é um mosaico cognitivo que propicia um olhar multifacetado, focando desde temas holísticos, como os capítulos escritos pelos principais estudiosos da área, entre eles Sérgio Mattos, Guilherme Rezende, Alfredo Vizeu ou Flávio Porcello, até os estudos de caso, ilustrados principalmente pelas contribuições de Ana Carolina Temer sobre os gêneros telejornalísticos, de Iluska Coutinho, a propósito da cidadania televisual, e de Valkiria Knapp, resgatando o protagonismo dos jornalistas que narram os acontecimentos cotidianos na telinha. Não menos interessantes são os textos assinados por Beatriz Becker, Celia Ladeira, Christina Musse e Edna Mello, em co-autoria com colegas e discípulos, tratando aspectos transversais do telejornalismo.
Conteúdos distantes das necessidades educativas
O mais impressionante neste exercício de resgate dos avanços e recuos desse segmento do jornalismo brasileiro é a atualidade que os autores demonstram frente ao panorama mundial. Evidentes nas fontes de referência que embasam, seus pressupostos teóricos e metodológicos não deixam de enriquecer suas análises com argumentos oriundos do legado acumulado pelos pesquisadores nacionais ou regionais.
Comparecem a esta coletânea alguns dos meus ex-alunos, espalhados pela vastidão deste país, problematizando o veículo, o gênero de expressão jornalística e o impacto social gerado dentro da nossa sociedade. Em consequência, asseguram uma compreensão da complexidade do fenômeno telejornalístico num país cuja população depende da TV para se informar e participar da ágora mundializada.
Este é um problema que, se não está ausente desta coletânea – pois Iluska Coutinho o aflora –, na verdade tem sido tangenciado ou negligenciado pelos pesquisadores do audiovisual brasileiro, cujo compromisso com a justiça social e a construção de uma cidadania inteligente pressupõe agendar imediatamente a questão, nesta conjuntura que tem preservado a nossa fé no futuro.
Ao convidar os leitores para usufruir os conhecimentos aqui difundidos, faço também um apelo aos seus autores no sentido de mobilizar os demais estudiosos do telejornalismo, agendando o dilema em que vivemos. Neste período de transição para a idade digital, os brasileiros estão servidos por uma televisão tecnologicamente moderna e esteticamente satisfatória, embora disseminando conteúdos distantes das necessidades educativas de vastos contingentes de concidadãos que permanecem excluídos do banquete civilizatório.
Quem sabe, ao comemorar 70 anos da televisão brasileira esse panorama já se terá modificado, pelo menos no campo do telejornalismo [São Paulo, 30 de julho de 2010].
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‘Depois de seis décadas de telejornalismo em nosso país, um grupo atento e comprometido de professores, pesquisadores e profissionais de dez universidades públicas brasileiras historia, analisa e critica os erros e acertos da televisão. Empenharam-se em apresentar uma compreensão e visão integral do fenômeno telejornalístico: sua evolução histórica, `a revolução das fontes´, seus gêneros, sua influência na cidadania e na identidade nacional, o modelo comercial e o público, o ciberespaço, sua ação política e o poder, seu compromisso com a justiça social, e a formação profissional. Esta é a reflexão que este livro propõe sobre os noticiários que adentram quase cem por cento dos lares brasileiros’ (Dos organizadores).
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Professor-titular da Universidade Metodista de São Paulo, diretor da Cátedra Unesco de Comunicação